XuCruTinho
boa noite, meu nome é Gabriela e há coisas em mim que estão me fazendo definhar em angústia. me dá náuseas contemplar o meu caráter e ver como eu me habituei em ser impaciente com quem comete os mesmos erros sempre perto de mim, enquanto sou muito simpática com absolutamente qualquer estranho a quem sou apresentada.
é impressionante como as opiniões sobre mim se dividem entre as pessoas que me conhecem profundamente. meus amigos me adoram. pessoas na minha família estão um poucos cansadas da minha soberba e dureza de coração. quais das duas será que eu sou?
quando alguém está doente ou estressado e dá patadas nas pessoas, se justifica dizendo "desculpe, é que hoje eu estou um pouco isso e aquilo". eu conheci um homem inteligente que disse uma vez que, na verdade, nestes dias é que as pessoas estão mais desinibidas para mostrarem o que realmente são.
então, quais das duas sou eu?
continuo na luta para ser real. ser de verdade. não apenas ser mais uma que sabe as regras do jogo, que sabe se portar em sociedade, que sabe sorrir na hora certa e como tratar um mendigo na frente do colega da igreja. eu quero ser. SER. há um poder nessa palavra, uma intensidade.
ser. eu quero ser.
ah Senhor Jesus, me faz parecida contigo.
eu tenho um sonho. eu odeio romantizar sobre ele. ficar suspirando enquanto penso nele. porque quando faço isso, é como se eu tivesse deixando ele mais impossível. colocando-o num patamar de utopia. como se para ele se realizar dependesse da minha opinião a respeito dele e não dos eventos da vida. da realidade. das oportunidades.
mas na verdade, os sonhos impossíveis não me incomodam. porque eu sei que até eles são realizáveis.
email que eu mandei pra uma fotógrafa que eu cogitei contratar pro meu casamento e cujos pacotes de serviço me pareceram um pouco abusivos. ela me escreveu perguntando se eu já tinha escolhido qual eu queria e eu respondi:
você perguntou das opções de pacotes que vocês ofereceram pra gente. o seu trabalho é realmente lindo. emocionante, como você mesma colocou no seu blog. dá pra sentir a emoção do casamento pelas suas imagens. mas apesar de termos gostado muito, fiquei com a sensação de que os pacotes de vocês tem muitas vantagens pra vocês e poucas pra nós.
o primeiro pacote custa 4.600. realmente, o trabalho de vocês é maravilhoso, tem que ser cobrado a altura e isso eu não questiono por um segundo. mas não pude deixar de analisar o que eu recebo contratando o pacote: o serviço e o album com 200 fotos. mas e as outras 1800 fotos que vocês tiraram? eu tenho que pagar mais 1200,00 se eu quiser o cd em alta. e se eu não quiser o album, se eu quiser só as fotos em uma mídia digital? não posso. e se eu quiser fotos a mais, que não estão no album? tenho que pagar 20,00 por cada uma. aliás, deixa eu dizer que sou jornalista, conheço alguns fotógrafos e conversei com todos sobre isso. e todos me disseram que cobrar por unidade assim era coisa de antigamente, quando os profissionais efetivamente tinham gastos por essa foto a mais que o cliente pedia.
mas o que me assustou mesmo foi quando você, na reunião na sua casa, contou sobre a noiva que está se esforçando muito pra nesse início de vida de casada, conseguir dinheiro pra comprar as fotos do casamento dela. eu particularmente fiquei horrorizada quando você contou aquilo sorrindo. fiquei pensando nessa noiva, morrendo de vontade de ter as fotos do casamento dela e você segurando elas aí no seu computador sem fazer nada pra ajudá-la a levar pra casa as imagens do dia mais importante da vida dela. que vontade eu vou ter de contratar assim?
eu fui nuns 14 fotógrafos já e todos foram flexíveis. ouvi de muitos (com trabalhos maravilhosos e preços altíssimos) "Gaby, é o seu casamento! todas as fotos são suas, eu não tenho porque ficar com elas aqui! você não quer um album desse tamanho? claro, vamos fazer nesse outro formato aqui. menos páginas? claro, vamos fazer assim. é o casamento de vocês, vocês decidem". e é isso que eu procuro. pessoas parceiras no meu casamento, isso me deixa segura. uma simples relação de consumo não é o que eu procuro.
e sobre a teoria de vocês sobre não dar descontos nem mexer nos pacotes por vocês acharem injusto com quem já contratou o serviço e não recebeu desconto e não pôde mexer no pacote... confesso que nunca ouvi algo assim na minha vida. e olha que eu entrevisto sempre pras minhas reportagens economistas, Procon, especialistas em relações de consumo e todos sempre me disseram exatamente o contrário, o que eu achei estranho.
aí você vai dizer pra mim "bom, Gaby, é a forma como nós trabalhamos e é um direito que nós temos, o de fazer pacotes super bons pra nós, de cobrar quanto e como nós quisermos pelo nosso trabalho". e você está certíssima se disser isso! realmente, vocês podem cobrar 20 reais por fotos a mais se quiserem. claro que sim! só que eu achei que faltou um pouco de sensibilidade, como se o astro da noite do meu casamento fosse vocês e não eu. por isso, me sinto na obrigação de alertar as noivas que eu conheço com a impressão que tive do studio de vocês.
obrigada pela atenção.
...Gaby
várias amigas casadas disseram pra mim "Gaby, aproveita essa etapa, é muito bom organizar a festa do casamento!". li reportagens de mulheres que entraram em depressão depois que voltaram da lua de mel, por causa do vazio existencial que o sonho de pensar no casamento deixou depois que ele acabou e sobrou nada a não ser o marido, a casa e a churrasqueira na sacada.
eu pensava nisso enquanto ouvia uma fornecedora hoje. ela me explicava detalhes a respeito da vida das flores e do nível de imponência de cada uma, como se eu fosse leiga E debilóide. eu olhava pra boca dela se mexendo enquanto ela tagarelava e em vez de prestar atenção na ficha técnica da tulipa, eu reparava que o dente dela era cinza perto da gengiva. parecia que eles estavam encaixados, como uma dentura que já está vencendo e começa a deixar escapar partes da mecânica. que tipo de pessoa tem os dentes cinzas? como o dente de alguém fica cinza?
e a sala estava com um cheiro estranho. enquanto ela falava, eu olhava para todos os lados, discretamente, aproveitando as vezes em que ela divagava e olhava para o teto para tentar encontrar o foco do fedor. era um cheiro de pombal, mas com menos potência. talvez ela tivesse um animal de estimação. pelo cheiro não era um cachorro, definitivamente não era um cachorro.
a conversa terminou e eu não consegui descobrir.
eu chutaria um gorila.
ela encerrou dizendo como todos os casamentos pra ela eram tratados como se fossem o dela. e como a equipe dela era sempre orientada dessa forma, a tratar as noivas como se fossem suas irmãs.
meu Deus, era oito da manhã quando eu acordei pela terceira vez naquele dia e eu estava caindo de sono.
na hora de fazer os cálculos para o orçamento, mais uma vez, aquele valor totalmente fora da casinha. eu queria viver num mundo em que coisas de casamento custam 100 reais. agradeci e fui embora.
cara, já era meio-dia.
bom, eu estou no auge da organização do meu casamento. e, com sinceridade, estou encontrando dificuldades pra achar diversão, apesar de ser uma etapa de descobertas. descobri, por exemplo, que de jeito nenhum posso fazer uma mesa de buffet sem um arranjo de flores. sei lá, pra mim ninguém vê arranjo em mesa de buffet. a atenção dos convidados está toda no mignon ao molho mostarda, não está? não tem como competir com um monte de mignon que você sabe que vai comer de graça.
também descobri que é uma espécie de ato infracional não querer mesa de docinho nem de bolo. quando eu digo que não quero, os fornecedores me olham como se eu fosse uma daquelas mulheres imbecis, metidas a serem pioneiras, arrojadas e a frente do seu tempo. o escândalo que eu causo é absurdo, como se, na verdade, eu tivesse dito que sou empresária, dona de uma clínica de aborto.
eu não sou arrojada. realmente não sou arrojada. eu só não quero que a cena do ataque ao docinho se repita no meu casamento. aquela cena de depois do jantar, em que parece que alguém tocou uma sirene e as pessoas voam para a mesa de docinhos como se o mundo estivesse no pós-guerra e aquela mesa fosse tudo o que os convidados têm para comer pelo resto de suas vidas. saem carregando os docinhos como se tivessem segurando um nenê num tiroteio, com os olhos esbugalhados, suando, com medo de que no caminho até o seu lugar na festa algo aconteça para impedi-los de comer tudo aquilo sozinhos (tipo aparecer alguém pedindo um dois-amores). aí quando todas as pessoas se afastam, você vê que até a decoração da mesa não está mais lá. eles comeram tudo.
vai ser lindo no dia, eu sei que sim. eu vou chorar, minha mãe vai chorar, o meu pai vai chorar, a vovozinha vai chorar, eu vou estar de branco e as pessoas vão se inspirar, eu também sei que sim. mas confesso que tem uma outra cena que me anima muito mais a continuar com tudo: a que eu estou com o noivo no nosso apartamento, comendo, só os dois, os docinhos que sobraram, embaixo das cobertas rindo de tudo que passou. isso sim é uma cena perfeita de casamento.
Eu me sinto falsa cada vez que sou simpática com alguém. Os dentes mal acabaram de aparecer amarelos no sorriso e já me veio à cabeça o meu esforço para ser genuína. Para ser de verdade. Real.
Os dentes ainda estão a mostra e uma metralhadora atira em mim as cenas do cotidiano em que sou cruel com o meu irmão porque ele é mais desorganizado do que eu gostaria e as em que eu costumo humilhar quem não dirige com a destreza que eu juro que tenho no volante. Rígida e amarrenta como um caqui verde.
O sorriso está fechando e nesse ponto todo o meu esforço já me parece inútil. E eu lembro como estou cansada de fazer e fazer e fazer... Fazer o que eu sei que me fará parecer uma excelente pessoa. Chegar no horário, ter sacadinhas ótimas, pegar tarântulas com a mão e dizer com muita traquilidade "imagina, elas são inofensivas", gostar de sashimi e de tudo que pouca gente gosta, simpatizar com movimentos reformistas (porque querer reformar é sempre muito descolado), conhecer Spurgeon e recitar Agostinho, ter acampado em algum lugar perigoso ou ter ido pregar num presídio...
Groselha. A mais pura groselha.
Ah, que o nosso coração seja tomado por uma vontade de não mais apenas fazermos, mas de sermos. Ser como Jesus, andar como Ele andou. Ser mudado e destinar todo o mérito a Cristo. Buscar somente a Ele, amar o que Ele ama e odiar ao que Ele odeia. De forma que haja frutos, mas sem que nós achemos que somos grande coisa por causa disso.
Que Ele cresça e eu diminua. E assim, somente assim, poderei respirar.
Cristo. é tudo o que eu tenho.
No escuro do meu quarto, de madrugada, eu me encontro com Deus. E me deparo com a realidade de que Ele sabe tudo a meu respeito. Que o computador é o meu túnel cavado na parede da cela, que a comida é a minha algema e que o espelho é o meu revólver. Ele sabe que eu sou mais triste do que pareço e que as minhas unhas denunciam minhas misérias. Minhas fobias. Minhas mentiras.
No meu quarto, na madrugada, consigo gritar meu sufoco. O que Ele ouve é "me alivia, Senhor". E o que Ele diz é "Vem".
Eu quero descansar de mim. Da minha falta de gentileza, do meu coração duro, da minha implicância com quem está acima do peso. Eu quero me dar um "mute". Que abaixem o meu volume porque ultimamente eu tenho sido só ruído. Quero férias do meu senso de justiça, das minhas raivinhas, da minha incapacidade de exercer misericórdia, da minha pose de quem sabe o que está fazendo. Eu quero abandonar em algum lugar o meu coração mal-criado e esquecer em alguma mesa o juiz que mora em mim. Me livrem das minhas obras e me resgatem da minha auto estima.
Eu quero ir embora de mim. E quero morar em Jesus.
eu morro de medo de casar. medo de ir para a próxima etapa da vida. parece que quando eu ter a minha casa e o meu marido, eu necessariamente serei obrigada a virar uma mulher madura. que só anda de terninho, adora frutas secas, conversa de documentários e de projetos para o futuro e de jeito nenhum faz piada caminhoneira, joga videogame e molha o bolo no nescau.
aí fiquei observando meu gato. Jesus, ele é tão idiota.
o bichinho tem medo de coisas muito estúpidas. o maior deles são os desodorantes. cada vez que alguém mira um desses sprays no sovaco, o meu gato dispara a correr. desesperado. ele se esconde e aparece muito tempo depois, olhando para os lados, desconfiado, provavelmente querendo se certificar de que não tem nenhum Rexona malvado escondido em algum lugar da casa.
me senti bem melhor.
afinal, melhor ter medo de casar do que de desodorantes.
carta de aniversário para um irmãoe daí que a gente se desentende? e daí que nós não compartilhamos as mesmas idéias sobre a vida? o amor que eu tenho no meu coração por você transcende isso tudo e eu seria capaz de bater ou de apanhar por sua causa.
pena que eu tenho tantos defeitos que às vezes não deixam estas informações preciosas saírem da minha boca assim todos os dias.
eu sei que de vez em quando, quando a gente olha pro dia a dia, parece que não sobrou mais nada a não ser mágoa, defesas, incompreensão, egoísmo e indiferença. mas eu quero te dizer, eu preciso te dizer, que isso não é verdade. não é! eu continuo torcendo por você, continuo me entristecendo quando nós brigamos, me importando quando vejo a gente sendo impaciente um com o outro porque quero que a nossa família se perdie e se dê bem e continuo me odiando quando sou arrogante e injusta com você.
por isso, nesse aniversário, eu quero te desejar algo diferente. eu desejo que você seja colocado na frente de um espelho e seja confrontado pelos seus defeitos. e que isso te constranja muito. eu desejo que o seu coração seja cheio de amor pelas pessoas. que você perca coisas que você ama para finalmente enxergar o que realmente importa e entender que às vezes damos valor demais para o que não passa de esterco. desejo que você perdoe a mim, a nossa mãe e ao nosso pai e que você seja livre, compreendendo com humildade que você magoou nas mesmas proporções que foi magoado. desejo que você seja em casa a mesma pessoa que é lá fora. que um dia você não dê a mínima para reputação e valorize o caráter. e que você não apenas saiba o quanto eu te amo, mas também se sinta amado por mim.
que a sua vida mude. que Deus te pegue de surpresa. e que você seja pleno.
tenha paciência comigo, eu estou começando a pegar o jeito.
feliz aniversário.
não há misericórdia em mim. analisando cada esquina do meu coração, procurando por todo lado no meu interior, eu não consigo encontrar nada que sequer se pareça com misericórdia. e mais ainda. eu só não consigo encontrar misericórdia dentro de mim, como também tenho problemas em encontrar nas minhas ações. eu não tenho, por isso não expresso.
muito Jesus para dentro e pouco para fora.
a descoberta é recente.
esta semana eu ouvi um pastor falar que não basta você carregar a Cruz de Cristo. você precisa segui-lo também. ser como Ele. e, ah Deus, eu realmente não sou. isso fica muito claro nas vezes em que alguém erra comigo. por tantas vezes, eu uso argumentos bem elaborados para esfarelar a pessoa, faço ela virar pó, chorar, se sentir como sujeira de ralo, e depois, na maior cara de pau, eu digo que a perdoo porque, afinal de contas, todos nós erramos.
Senhor, eu merecia ser fulminada. “Portanto, você, que julga os outros é indesculpável; pois está condenando a si mesmo naquilo em que julga, visto que você, que julga, pratica as mesmas coisas” (Rm 2.1)
mas há esperança. claro que há. por causa de Jesus, que chamou os que estão cansados e os convidou a levar o Seu fardo, que é suave e leve.
que o Senhor reine soberano no meu coração para que eu seja transformada e toda escuridão que há em mim seja retirada pelas mãos de Jesus. que eu seja convencida do meu pecado e genuinamente me arrependa de cada um deles. porque, cara, eu realmente não presto.
a preocupação em dar exemplo é tanta que às vezes fica tudo meio forçado. quem somos verdadeiramente só Jesus é capaz de descrever. e se estamos fazendo o que deveríamos estar fazendo, só saberemos no final dos tempos. o norte é Cristo, eu sei disso. aliás, é só o que me traz segurança para acordar de manhã.
mas há um problema. um mal-estar que aparece de vez em quando, um cortezinho ardido que me faz olhar para a realidade como se ela fosse de mentira, e um pensamento me vem: "o que é que está acontecendo de verdade? será que Deus pode mesmo se manifestar no meio de tantos pontos de vista?".
apesar de termos um norte, às vezes inventamos procedimentos para validar as coisas, para torná-las corretas, para funcionarmos. pequenos rituais, como mini holocaustos em que cortamos a cabeça de baratas ou varejeiras, que servem apenas para fazer nós nos sentirmos um pouco melhores. como se aquilo me redimisse de qualquer picaretagem que eu tenha cometido. como se o procedimento que eu inventei colocasse uma roupa bonita na minha verdade leprosa.
é impressionante o que fazemos para nos sentirmos um pouco melhor e dormirmos tranqüilos.
vez ou outra, quando as pessoas estão simplesmente vivendo sua rotina, fazendo o que sempre fazem, de estarem umas com as outras e de conversarem sobre qualquer coisa em algum lugar, eu paro e as observo com muita atenção. olho para elas e espero.
de repente, BINGO! acontece! uma pequena gesticulação, uma careta, uma frase dita sem pensar, algo discreto as revela. como se tivessem aberto um pedacinho da cortina e você tivesse conseguido ver os artistas tirando a maquiagem lá atrás. por meio daquele pequeno vestígio de espontaneidade, é possível saber um pouco mais. eu sempre fico com uma impressão de que nem a metade da história foi contada.
a pessoa que vive cercada de gente e parece sempre estar se divertindo, vai para casa e, no silêncio do abajur, se vangloria em sua arrogância. pode até rir dos outros no escuro e nunca ninguém vai saber. a moça que adora comer, pode, na verdade, armazenar raiva de si mesma. o rapaz que parece sempre tão certo, às vezes tem dificuldades para dormir porque está sendo consumido aos poucos por sua confusão interior. e o homem amável e compreensível, que adora ajudar os outros, pode muito bem, secretamente, ter asco de mulheres divorciadas e de jovens obesos.
Jesus Cristo, será que é possível ser verdadeiro? realmente verdadeiro?
"pois todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus", Romanos 3:23 diz. a questão não é que pecamos. a questão é que não fizemos nada além de pecar. e se Deus é justo, Ele não pode nos perdoar.
por isso Jesus morreu. porque alguém tinha que morrer.
a morte que me trouxe vida. porque por meio de Cristo, Deus não me salvou do inferno. Deus me salvou dEle mesmo.
"Onde está, então, o motivo de vanglória? É excluído", versículo 27 de Romanos 3.
a cada passo que dou em direção a Cristo, me vejo no espelho que é a Sua Glória. e ao olhar para mim, vejo que o que há de melhor na minha vida é como um trapo imundo (Isaías 64:6).
a única forma de existir é por Jesus. eu só posso respirar através dEle. sem Ele, o ar me falta e a sensação é de estar me afogando em mim mesma. ah Senhor, será que eu tenho conserto?
que Ele nos limpe para que possamos ter vida em abundância. e tenha misericórdia dos que vivem acreditando que estão perto da perfeição.
era aniversário do meu pai e a gente foi jantar num lugar bem legal. Avenida Paulista, no centro, perto da Rua 24 horas. chovendo de um jeito ignorante e eu, pra combinar, já saí da rádio que nem uma maluca, atrasadérrima. enquanto eu dirigia, ficava repassando "ok, pega a visconde de nacar, passa a rua 24 horas, vira a primeira a direita e já é na segunda quadra, não tem erro. não tem erro. não tem erro". pasmem, mas eu achei de primeira. fiquei bege comigo mesma.
lá estava, bem grande: AVENIDA PAULISTA. estacionei e, bom, eu que estava indo tão bem, me perdi na hora de entrar no lugar. fiquei um tempão dando volta no restaurante procurando a porta. mas tudo bem, supera e toca a vida. quando achei num canto escondido a dita da entrada, entrei tentando me recompor, me esforçando para parecer um pouco elegante porque, UAU, era um daqueles restaurantes lindos, em que as pessoas não fumam e os garçons parecem ganhar 10 mil reais por mês para te servirem e a decoração faz você querer morar lá.
eu vi meu pai de longe. ele acenou e pareceu feliz em me ver. porque ele me ama, claro. e porque devia estar com fome e, bom, eu finalmente tinha chegado.
abracei meu pai bem apertado, disse que amava ele and I meant it, dei oi pra mulher dele e pro meu irmão e pensei o que eu sempre penso quando encontro com eles. eu sempre chego atrasada em TODOS os eventos (isso quando eu não perco a festa) e apareço meio desarrumada de correr tanto no meu trabalho e quando olho pra eles, puxa... eles estão intactos. aquela chuva e a escova da mulher do meu pai estava brilhando como os espelhos do Lady & Lord. eles parecem ter empregos tão saudáveis, em que você faz tudo com calma, sai a hora que quiser, ganha bem... e eu lá, com aquela cara de jornalista maluca, que está super informada sobre a gripe suína, mas não tem a menor coordenação para manter o cabelo em dia.
bom, aí a gente pediu. e antes que a dita da pizza de alcachofra chegasse, começou o que sempre começa. os debates. eu odeio os debates.
desde que eu sou pequena, as pessoas com o meu sobrenome me ensinaram a entrar em debates calorosos sobre assuntos cretinos. o meu pai e o meu irmão adoram isso. a motivação é aquela de mostrar quem tem argumentos melhores, quem é mais brilhante em moer a retórica do outro, quem consegue vencer. assim, se tornou tipo uma tradição na minha família: arruinar jantares de aniversário com assuntos polêmicos. e tradicionalmente, alguém sempre sai machucado, mas finge que não. Jesus Cristo, quanto tempo e saliva eu perdi com essas discussões idiotas. hoje, eu abandonei essa vida. mas meus familiares não.
aí, a gente mal tinha pedido as alcachofras, o meu irmão disse: "ah Gaby, conta sobre aquele programa que você apresentou na rádio sobre o papel da mulher na sociedade". eu: "por quê?". ele: "não, é que a gente estava conversando sobre isso antes de você chegar e, ah, vai, conta". e eu contei. de repente, a mesa estava explodindo num debate idiota sobre as mulheres procurarem ou não relacionamentos em que elas abaixam a cabeça para gorilas que chamam de maridos. as alcachofras ainda estavam cruas na frigideira, o meu irmão e o meu pai engataram outro sobre a suposta superioridade dos médicos, sobre como eles se acham deuses, e o meu pai argumentava dizendo que os lixeiros também podem ser arrogantes, que isso vai da pessoa e não da profissão. o meu irmão rebatia quase levantando da mesa, falando aos cuspes, meio descontrolado, dizendo abobrinhas como "eu não estou falando de casos isolados, estou falando de profissionais que se acham melhores do que os outros". deu vontade de dizer "então gente, falando em arrogância...".
a alcachofra chegou, eu não estava mais tão animada com o meu prato. o que não me impediu de comer porque eu estava realmente com fome.
ficou um clima estranho por um tempo e depois todo mundo fingiu que aquilo foi só um debate muito maduro entre adultos, quando na verdade foi mais uma demonstração do Jô Soares que habita dentro de cada um da família. é o que sempre acontece. saí de lá meio triste. bem triste, na verdade. é essa pose que me incomoda, sabe. isso que todos eles tem de jurar que sabem muito, que são acima da média em seus raciocínios. crendo nisso, são cruéis, desrespeitosos, esnobes. eu falo porque sei. fui assim por tanto tempo. Jesus me deu semancol. e agora... sei lá, seria mais legal simplesmente conversar e cantar um parabéns... enfim.
ando inquieta. quem está de fora percebe pela minha perna que não pára de balançar um instante e pelas minhas unhas que vivem curtas a força. só. mas para mim, que sou eu e sinto tudo o que eu sinto, é como se eu estivesse no meio de uma gritaria. uma multidão, com milhares de Gabriela's berrando "FAÇA UM MESTRADO!", "BUSQUE REALIZAÇÃO PROFISSIONAL!", "FAÇA ACADEMIA!", "TENHA UMA ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL!", "SEJA MELHOR, FAÇA MELHOR, QUEIRA MAIS, CORRA ATRÁS!". são gritos estridentes dentro de mim, como pessoas vociferando, insatisfeitas com o que eu tenho e com o que eu sou.
e isso me causa uma sensação horrível de que eu deveria estar fazendo alguma coisa que eu não estou fazendo. o pior é que eu não tenho idéia do que é. é como viver com vontade de ir ao banheiro. penso o tempo todo nas milhões de coisas que eu queria ou, pior, DEVERIA estar fazendo e não estou e sinto até dores. minha mente logo organiza uma lista de atividades e, Jesus Cristo, são tantas que a primeira certeza que me vem é de derrota.
a angústia é tão massacrante que às vezes não consigo ficar sozinha comigo mesma. eu preciso fugir desesperadamente, sair correndo, buscar silêncio, um deserto, qualquer porcaria de ambiente que não faça barulho e que não tenha ninguém me dizendo o que eu devo fazer!
é nesses dias que eu chego a jogar quatro horas de videogame sem parar. me interno em jogos de computador alienantes, em vídeos do youtube, em programas de televisão que não exigem nada de mim. aí os dias passam por mim, acenando, dando tchauzinhos, fazendo convites, mas eu nem noto. parece radical, mas me lembra alguém que vive para esperar a morte.
o único de quem não consigo fugir é de Deus. talvez me falte disposição para buscar um Pai que é invisível, no entanto, deixe-me dizer que Ele prevalece sobre qualquer inquietação e sobre tudo o que me ensurdece. meu coração se rende quando Ele me diz: "Aquietai-vos, e sabei que eu sou Deus" - Salmos 46:10. não há motivo para nenhuma preocupação, porque tudo a Ele pertence. ah, como eu quero aprender a fazer dEle o meu refúgio.
continuo sentindo Deus inquieto na minha vida. porque tudo está mudando, principalmente eu. eu estou mudando. ou sendo mudada. meus pecados têm emergido como cocô de rato em dia de enchente e eu tenho sentido holofotes sendo jogados sobre a minha podridão para que eu possa enxergar direitinho do que eu sou feita. quanto mais perto eu chego de Deus, mais pecados emergem. porque a glória Dele é como um espelho. ou seja, quando eu sei exatamente quem Ele é, eu sei exatamente quem eu sou.
faz sentido?
e é tão estranho porque eu convivi a minha vida inteira com uma arrogância aguda sem sequer notar que ela estava lá. para mim, pensar que eu era melhor do que todo mundo,
do que simplesmente todo mundo, sempre foi algo tão natural. e agora, sinto que estou sendo removida desse lodo de autosuficiência, dessa ilusão que é a arrogância. ilusão porque, bom, eu não sou melhor do que todo mundo. pra ser ainda mais sincera, eu não sou lá aquelas coisas. vamos combinar que por mais simpática e divertida que eu seja, se fossem passar num DVD tudo o que eu já fiz e tudo o que já passou pela minha cabeça, eu nunca mais sairia de uma gruta qualquer da zona rural da cidade.
bizarro é pensar que Lúcifer cometeu erro semelhante. achou que não precisava de Deus. foi condenado e para ele não tem volta. para mim, há uma chance por meio de Jesus Cristo. como não se apaixonar por um Deus assim?
im-pos-sí-vel.
Os meus dias de angústia começaram depois de um jantar na casa do meu pai. Lá pelas tantas, a mulher dele, do nada, me disse: “Você sabe da última novidade do seu pai, Gabriela? Agora ele é ateu”. Eu olhei para o meu pai em choque e ele estava rindo. Disse: “Querida, eu não sou ateu, eu só não acredito mais em Deus”. Aquilo pra mim foi como perder o chão. Eu conheço muita gente que se diz ateu, mas o meu pai? Ele, que sempre me escrevia cartas quando morávamos em cidades diferentes, dizendo para eu nunca deixar de “rezar”, porque Deus era muito importante, justo ele não acreditava mais.
Levada pela não aceitação do fato, tomei a pior decisão da minha vida: resolvi argumentar. A discussão começou comigo questionando como ele poderia não acreditar mais em Deus. O debate durou cerca de uma hora e fez um estrago em mim. Meu pai tinha acabado de ler a Superinteressante, que é uma revista que trata de temas religiosos sempre com um leve tom de “quem acredita em Deus é retardado”, e outros livros nessa linha, então ele estava com os argumentos fresquinhos, louco para desfilar com eles pela sala e, de preferência, sobre a minha dignidade. Além dos comentários super “científicos”, ele fez aqueles velhos questionamentos como “então como você me explica um Deus que deixa tantas pessoas passarem necessidade? Hein? Você acha que elas estão sendo castigadas por algum pecado que cometeram?”. É claro que eu não sei responder a esta pergunta. A verdade é que ninguém sabe, nem os cristãos, nem os ateus. E é exatamente por isso que eu acho que ela só reforça a existência de Deus, porque há um mistério nesta vida, um quê de inexplicável na ordem natural das coisas, onde a lógica fica marginalizada, e, pra mim, torna audível a voz do Criador.
Só que na hora, ali, discutindo com o meu pai, eu quis ter uma resposta. A arrogância e o desprezo com que ele falava sobre o invisível me fez desejar dizer algo que o calasse, que o fizesse ter um pouco mais de respeito pelo o que ele não enxerga. Mas é claro que eu não consegui porque, como eu disse antes, nessas discussões a lógica fica um pouco de lado. É sobre fé que nós estávamos discutindo, ainda que meu pai dissesse que não. Quando você diz que não acredita em alguma coisa, você está dizendo que não tem fé naquilo. “Eu não acredito que não existe. Eu tenho certeza”, meu pai falava, como se o fato de ele ter esta certeza fosse o suficiente para apagar a existência de Deus.
O meu irmão também me olhava com a mesma cara de deboche e trazia argumentos com arrogância para a mesa. No calor das tentativas de me provar como eu era ingênua por acreditar em Jesus, eles me chamaram de burra e riram muito de mim.
Aquela discussão me magoou demais. E abriu uma ferida no meu coração. Voltei a sofrer com a importância que eu sempre dei para as opiniões do meu pai e me peguei questionando as coisas em que acredito. Uma noite, dois dias depois do acontecido, voltando do trabalho, eu não conseguia parar de pensar em tudo o que meu pai e o meu irmão haviam dito pra mim. Comecei a perguntar pra Jesus porque ele tinha deixado aquilo acontecer, porque Ele não fez algo pra provar que existe, porque ele não fez nada. No carro, pensando nisso, fui ficando confusa e resolvi fazer uma oração. Mas imediatamente comecei a chorar ao perceber que já não tinha mais tanta fé nas coisas que eu estava dizendo. Então dirigindo, gritei aos prantos, “Senhor!! Por que o Senhor está deixando isso acontecer?? Eu estava feliz, Deus, crendo no Senhor!! Por que o Senhor não fala nada?”. Chorava e gritava muito. Foi horrível.
Esse caos durou 3 dias. Três dias intermináveis.
Depois que eu me acalmei, vi que, o que me irritou, foi ter sido, mais uma vez, rebaixada pelo meu pai e pelo meu irmão por simplesmente ser como eu sou. Não vou mentir, ainda estou muito magoada com eles. Não diretamente, pensando coisas como “agora eles vão ver só”, mas é algo sutil, que me deixa intolerante com os acessos estúpidos de “eu sei absolutamente tudo” dos dois, impaciente só com a presença deles, indiferente a necessidade de fazer a manutenção do vínculo familiar por meio de perguntas como “você não me parece bem, o que houve? Posso ajudar?” e “que dia você viaja para os Estados Unidos?”. Eu simplesmente parei de me importar, esfriei sem querer esfriar. Meu irmão, que mora comigo, pegou o vôo para outro país e eu fiquei sabendo no dia em que cheguei em casa do trabalho e ele estava indo para o aeroporto.
Mas é lógico que não me orgulho de nada disso. O pior é que depois daquele jantar na casa do meu pai, tudo mudou. Foi como descobrir que eu, na verdade, nunca convenci ao meu Deus com a minha “vida espiritual” porque eu não era uma cristã de verdade. Nunca fui! Cheguei a pregar em presídios sobre o amor dEle, era líder do grupo de oração das meninas na igreja... Mas hoje eu vejo que era como se eu tivesse uma identidade secreta, paralela a de crentinha, em que eu era uma pessoa impiedosa, arrogante, que manipulava diversas situações para ninguém ver os meus pecados. Só que eu não sabia disso. Juro pra você, eu achava que estava fazendo o melhor, que eu tinha um super relacionamento com Jesus, mas... Eu não tinha. Era tudo um grande esforço, não era genuíno. Eu só me esforçava para ser uma cristã, nada mais, pouquíssimas coisas eram transformações verdadeiras de caráter.
Paralelo a isso, eu ainda descobri que tenho muitas mágoas remanescentes do meu pai e do meu irmão, mágoas que eu jurava que já tinha resolvido e até saía por aí discursando sobre perdão.
Além disso, tudo isso me surpreendeu com mais uma novidade: depois daquele jantar, eu, na verdade, não duvidei que Deus existe, eu duvidei que Ele se importa. Duvidei que Deus liga para nós de verdade, que nos ama incondicionalmente. Porque no fundo, eu sempre vi Deus como um Pai que vai nos fazer sofrer, tirar de nós o que gostamos, ignorar nossos sonhos, nos cobrar com severidade a perfeição e só caso a conquistemos é que Ele nos deixará viver. Exatamente como o meu pai sempre fez. Quer dizer, eu não duvidei de Deus. Eu apenas lhe transferi a pessoa do meu pai e comecei a acreditar que Deus se comportaria como o homem que me criou. E me machucaria.
Então, aquele dia no jantar, um sentimento de incredulidade não foi gerado em mim. Ele já estava lá. E essa é a pura verdade. Puxa vida, Jesus sempre soube disso, o que triplica a minha vergonha. Só de lembrar de mim fazendo pose de santinha me dá vontade de esfregar meus dentes no asfalto. Quem é que eu estava tentando impressionar, Jesus?
Agora tudo está bem diferente na minha vida. Eu não sei mais direito quem eu sou, partindo do principio que eu escondi por muito tempo as minhas falhas e misérias. Antes eu lia a Bíblia crendo que o Espírito Santo me faria grandes revelações, só para eu chegar na minha igreja e contar para todo o mundo o que Deus andava falando comigo. Hoje é diferente. Eu simplesmente leio, tento aprender e oro com a maior sinceridade possível, sem me achegar de roupa de gala e sapato de salto ao meu Deus, que esquadrinha meu coração.
Também tenho falado menos sobre os meus “conhecimentos teológicos”, aquelas coisas de ficar comentando o que Deus quis dizer em tal passagem da Bíblia, as incríveis teorias sobre a Cruz e a salvação garantida a todos por Jesus Cristo por meio do seu sacrifício de amor. Perdi totalmente a vontade de ficar desfilando com as minhas opiniões. Quando se iniciam discussões assim em meio ao meu grupo de amigos, me afasto. Eu me desinteressei por isso, o que é bem estranho se eu lembrar que amava falar em público e sentir que todos prestavam atenção no que eu estava dizendo. Grande cristã essa que cuida da sua vaidade como uma planta num vasinho.
Em tradução, enjoei de ser o que meu pai me ensinou a ser, uma sabe-tudo de nariz empinado, e decidi refletir mais sobre a minha verdadeira identidade. Com a humildade de saber das minhas fragilidades e o quebrantamento de entender que eu preciso de Deus. O próximo passo é compreender que o meu pai e o meu irmão são dignos do mesmo amor e tentar colocar em prática o que Jesus ensinou de tão lindo na Bíblia.
É... Deus tem os seus métodos.
O cronômetro foi zerado para mim. Depois de tanto tempo caminhando, vi que boa parte da trajetória eu andei com a firmeza de uma orgulhosa e presunçosa, e não de uma apaixonada por Cristo. Algo como diz em Hebreus 5:12 (e eu cito esse versículo sem a menor pretensão de nada, a não ser de explicar como me sinto). Diz assim: “Embora a esta altura já devessem ser mestres, vocês precisam de alguém que lhe ensine novamente os princípios elementares da palavra de Deus. Estão precisando de leite e não de alimento sólido!”. E continuo com o versículo 14: “Mas o alimento sólido é para os adultos, os quais, pelo exercício constante, tornaram-se aptos para discernir tanto o bem quanto o mal”.
Não vou mentir. A sensação de descobrir que você é uma farsa passa longe do agradável. É incrivelmente humilhante, mas sabe... Nesse momento, tudo o que eu tenho pensado é que a minha humilhação não deve ser assim tão ruim. Porque, nesse caso, o que me envergonha, glorifica a Deus. Mas não aquele Deus formal, bravo, como eu visualizava. Estou aprendendo a amar um Pai que trata conosco no profundo, que não deixa as nossas mentirinhas e pequenos fingimentos, criados para nós nos adaptarmos melhor a sociedade e que por muitas vezes nos machucam, passarem batidos. Um Deus que é de verdade e que, por mais que eu não entenda tudo sobre ele, me ama mesmo eu sendo uma completa idiota.
Não importa mais quem eu vou ser amanhã, eu só gostaria de todo o meu coração que fosse verdadeiro e que agradasse ao meu Jesus querido. Que ele viva através de mim e nesse processo, me dê a honra de ser meu amigo. Porque pior não é desacreditar em Deus. É pensar que Ele existe, mas se comportar como se não precisasse dEle. Isso sim o magoa.
E para aquela pergunta clássica “aonde é que está Deus?”, hoje eu respondo: Ele está onde sempre esteve. Onde é que está você.
...Gaby
fui tomada por uma atmosfera fitness. resolvi sair do sedentarismo e praticar natação. eu só não contava que meu cabelo ficaria duro que nem um pau. os cabelinhos do cucuruto, afe, estão como aquelas terras de xaxim, onde se coloca samambaias.
mas há coisas que compensam.
por exemplo, viciei em esfoliante. meu pé andava meio cascudo, comprei um creme esfoliante para pés e, tá-dá!, meu pé está super macio. antes, eu estava até desfiando as meias finas, totalmente rústico, tipo cadeira de junco ratan.
agora estou a procura de um milagre para os meus cabelos. ainda não fizeram shampoos esfoliantes, então eu sigo a minha trajetória angustiada.
as unhas vão bem, obrigada.
Eu e minha mãe fazendo palavras cruzadas. Dúvidas surgiam, ela berrava do quarto dela pra mim. Dúvidas surgiam, eu berrava do meu quarto pra ela.
Então a pergunta que me surgiu era: dois países da América Latina que ficam na América Central. Logo berrei:
- Mãããe, só conferindo: Cuba é na América Central, né?
- Não, Cuba é na América Latina.
- Dona Solange, toda a América Central é América Latina.
- Claro que não, Gabriela!
- Jesus mulher!!! Claro que sim!!
- Gabriela, que América Central! Você quer dizer a América do Sul.
- Mulher de Deus, a América Central, aqueles paisinhos que ficam no meio das Américas do Sul e do Norte, com aquelas ilhinhas.
- Cuba fica na América Latina e não na América Central. que América Central é essa?
- América Latina é todos da América do Sul (menos Suriname e Guiana Francesa eu acho), Central mais o México.
- E México lá é latino, Gabriela!!
- JESUS CRISTO!
eu na época que fiz a minha tatuagem não tinha muito o pensamento que eu tenho hoje. era meio sem noção. a questão é que se fosse hoje, eu não faria. por isso eu não aconselho ninguém a fazer tatuagem, porque como qualquer coisa nessa vida, você se enche daquilo ali e você simplesmente não pode passar uma água e tirar. porque o negócio não sai. aí você tem que andar por toda a sua vida com um desenho cravado na sua pele que simboliza uma época que você não está mais vivendo, que simboliza um pensamento que você já não tem mais, que simboliza idéias que você já superou. é andar por aí com um passado besta dando tchau pra todo mundo. não faz o menor sentido. se eu pudesse, eu tiraria. não porque ela ficou feia, mas porque tatuagem tem um significado. sempre tem. quando eu fiz as cerejinhas, eu quis fazer por diversos motivos. e esses motivos hoje pra mim são estúpidos, que não valem um desenho na minha pele que não vai sair nunca mais.
fora que dói MUITOOOOOO! antes de eu fazer a tatuagem, perguntei pra um monte de gente se doía e todo mundo falava "dói nada! é umas picadinhas só". MEN-TI-RA! gente, dói pra burro! é quase insuportável! horrível!
ah, e outra: hoje em dia todo mundo tem tatuagem. o diferente em breve serão as pessoas que não tem. na minha opinião já são. por isso, se você pensa em fazer tatuagem, pense muito bem. vai parecer super legal no início, mas depois que passar um tempo você vai começar a achar que aquele desenho já não combina mais com quem você é. porque a gente muda e o desenho não.
assim são com pessoas que eu por muito tempo levei comigo na minha vida.
perdi muito tempo com quem não queria compromisso. porque era cômodo, mais fácil, conveniente... sei lá. é como a tatuagem. tipo carregar na sua pele algo que já não vale mais ser carregado, um momento que já passou e talvez você esteja insistindo nos restinhos que ficaram. a diferença é que essa tatuagem de relacionamento a gente pode tirar, mas às vezes escolhemos permanecer com elas. como que pode...? gente que me sufocou e eu simplesmente não tirei de mim quando deveria.
bom, mas aí eu tomei vergonha e disse adeus pra encontrar alguém com quem eu realmente queria estar, alguém que valesse a pena cravar na pele. foi a melhor coisa que eu fiz. dá pra dizer que hoje estou feliz.
acho que desde que eu era um feijão eu tenho essa dúvida. uma dúvida existencial. porque convenhamos, a vida é cheia de armadilhas. é como a história daquela amiga que conheceu um cara perfeito e gentil, inteligente e de boa família, com um futuro profissional brilhante, e ele se apaixona por ela, promete mundos e fundos e ela também se apaixona porque ele é simplesmente incrível. a partir daí, duas coisas podem acontecer (basicamente, claro, afinal o ser humano é um pouco mais complexo do que "alternativa a e alternativa b"): eles se casam e são muito felizes entre um pepino e outro ou eles se casam e ela descobre que não é bem isso. ok, vamos acrescentar uma alternativa c. eles se casam e o cara bonitão vira um é ciumento psicótico que faz da esposa uma prisioneira do próprio lar. uma alternativa d também cabe aqui. ele e ela engordam uns 18 quilos e viram um casal de obesos cuja maior alegria é fazer campeonatinhos para ver quem consegue comer todo o cardápio do Burguer King.
pois é, a vida, pelo menos a minha, é assim. dúvidas corrosivas.
porque existem essas armadilhas, elas estão espalhadas por todos os lugares e elas podem manchar meu futuro e eu não terei a quem culpar senão a mim mesma. parece tão estúpido isso tudo, porque eu poderia simplesmente dizer "ahquesedane! eu vou viver e pronto!", mas... eu não consigo! quer dizer, não dá! porque não tem volta! vai soar idiota, mas eu senti isso quando fiz uma tatuagem. precisa ser lindo porque eu vou olhar pra ela por toda a minha vida.
só que na vida eu... eu disponho somente da minha capacidade precária e limitada de julgamento pra me auxiliar. me fala, não é de se desesperar?
e por favor, não resolve em nada dizer aquelas frasesinhas nissin miojo (três minutos está pronto) do tipo "mas se não fosse assim, não teria graça". sinceramente, eu não acho muito engraçado não ter a menor idéia de qual caminho seguir. quer dizer, vai saber? o que escolher?
eu não sei o que fazer.
e é por isso que, por enquanto, eu não vou fazer nada.
válidas orientaçõesCarla: e vc, o que escreveu hj pra eu ler?
Gabriela: nada minina. eu não parei um minuto. eu tenho que pensar o que vai ser do capítulo 24. eu só sei que vai sobre zac e mary. eles estão meio sumidinhos.
Carla: ah eu acho q tá equilibrado
Gabriela: e eu não sei (PRA VARIAAAR LÁ LÁ LÁ) como eles vão conversar sobre eles e tal. precisa de um super diálogo revelador. e confuso. drama drama drama.
Carla: mas eu achei que a sua personagem tinha dado uma repensada depois da conversa com a bianca.
Gabriela: então, mas ela precisa manifestar isso! e eu não dei nenhuma chance pra ela o fazê-lo. hehe. só que eu não sei como isso vai acontecer. tem que ser genial. e simples.
Carla: aff, que dificil hehehe.
Gabriela: AAAA eu sou a pior escritora do mundo, cara!!!
Carla: hahahahahaahaha.
Gabriela: duvido que os escritores são como eu, desorganizados!!
Carla: hahahaha. ai gaby.
Gabriela: cara, quem é que começa uma história sem ter IDÉIA de onde ela vai parar??
Carla: vc tem ideia sim, você já sabe tudo, só que tá escondido, vc vai descobrindo conforme vai escrevendo.
Gabriela: se eu fosse famosa e um jornalista me entrevistasse e me perguntasse: "e então Gaby, todo mundo quer saber: o casal vai ficar junto?". e eu diria: "minina, eu também não sei! o que você acha? me ajuda aí, dá um palpite". afe ¬¬.
Carla: vc ia responder "eu ainda não descobri, pq pra mim escrever é um processo natural. eu não prendo minha arte em caminhos pré-estabelecidos. meus personagens são livres"
Gabriela: mmm um jeito chic de dizer que sou desorganizada!
Carla: e ae td mundo ia dizer "ooooh". e o seu estilo de escrita ia ser discutido nas universidades. seria um fluxo de consciencia com coesão. pq o pensamento é cheio de paradoxos.
Gabriela: uau...
Carla: ia ser um sucesso.
continuando com os emails de amigas que sofreram por caras galinhas. esse é de novembro de 2002. é impressionante como alguns dramas da vida se mantêm atuais. divirta-se.
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Bom, eu não sei o que exatamente eu te contei por último a respeito da minha situação com o Rodrigo. eu acho que te contei que a gente pra jantar e comemorar o meu aniversário e que foi lindo, mas não rolou beijo *porque eu não achei que era o momento*. Muita coisa aconteceu depois disso. Nós continuamos no mesmo esquema. Com altos e baixos... Eu vou te contar os últimos episódios pra você ver a que pé que a gente anda.
Na semana passada, o Rodrigo estava todo esquisito. Ele olhava pra mim e começava a rir. Mas assim, ele ria mesmo. Como se estivesse com o riso frouxo. Parecia meio malandro. Na segunda foi assim, na terça também. Ele vinha me abraçar, me beijar, me dar oi, e dava risada. Ele já vinha rindo me cumprimentar. Eu perguntava o que era e ele respondia: "eu estou apaixonado, Vanessa". Eu: "por quem?". Ele: "Por você, ué". Eu não engolia. Era como se ele estivesse planejando alguma coisa. E ele estava meio malandro, parecia que estava debochando. O Rodrigo se declara pra mim o tempo todo, mas nessa semana passada, a semana malandra, ele estava fazendo isso de um jeito... Malandrão. Eu perguntava: "E aí, Rodrigo, tudo bem com você?". Ele: "Tudo ótimo, Vanessa, tudo maravilhoso, porque eu estou apaixonado por você..." e ia longe. O Rodrigo também vive me olhando. Aí quando eu olho, ele me manda um beijo. Mas nessa semana, até isso ele estava fazendo de um jeito malandro. Eu não estava gostando daquilo.
Aí na terça à noite eu fui à psicóloga. E sabe que quando a gente vai a psicóloga, a gente fica bem resolvida por uns dias. Cheguei na quarta-feira indignada com ele. Quando ele entrou pra me dar oi, já entrou rindo. Eu levantei pra cumprimentar e ele disse, rindo: "aaaa Vanessa! Não era pra você levantar". Eu: "Mas por quê?". Ele: "Porque eu tinha uma surpresa pra você" e ria mais. Aí me enchi: "Rodrigo, pára! Eu não estou gostando desse teu jeito todo malandrão! Não gosto! E mais: esse teu tipo não me convence". Aí ele ficou sério porque viu que eu estava mesmo irritada. E disse: "Malandro? Mas eu não estou malandro". Eu: "Está sim! Você não pára de rir! Parece que está debochando". Ele: "Eu não estou debochando, Vá". Enfim. Aí a gente ficou quieto e eu perguntei: "por que não era pra eu levantar?". Ele: "Porque eu tinha uma surpresa pra você". Eu: "Pronto, estou sentada de novo. Pode me dar a surpresa". Ele: "Não, tem que ser de primeira. Amanhã eu faço". Eu: "E por que eu tenho que estar sentada?". Ele: "Pra não cair de susto". Eu: "Mmm... E eu vou gostar da surpresa?". Ele: "Vai". Eu: "Muito?". Ele: "Muito. Quer dizer, você pode não gostar também".
Sabe, Gaby, o Rodrigo não é do tipo que faz esse suspense todo e chega no outro dia com uma florzinha. Eu tinha certeza de que ele ia me dar um beijo. Fiquei super nervosa. Mas tentei não pensar tanto, não ficar programando reações. Deixei pra ver como eu reagiria na hora, pra ser espontâneo.
Ele sempre aparece no meu setor lá pelas duas da tarde, que é o horário que ele chega pra trabalhar. Nesse dia da surpresa, ele chegou às três. Provavelmente ficou se enrolando porque estava hesitando sobre o que ia fazer. Só sei que quando deu três da tarde, ele entrou no estúdio todo decidido. Eu fiquei só olhando ele chegar. Gaby, ele veio seco pra me dar um beijo. Mas na hora H, não teve coragem. E beijou do lado da minha boca. Mas assim, um beijão demorado e gostoso, sabe... Aí enrolou os braços no meu pescoço e escondeu o rosto no meu pescoço. Eu achei engraçado a covardia fofa dele. E perguntei: "O que foi Rodrigo?". Ele: "Nada não". Eu: "Cadê minha surpresa?". Ele: "Ah, era isso", se referindo ao beijo bem dado que ele me deu". Como eu vi que ele não queria falar muito do assunto, deixei quieto. Ele ficou ali, fazendo massagem em mim e me olhando.
Ele teve medo, Gaby, porque ele sabe, mesmo na ignorância galinha dele, que quando a gente se beijar, vai significar alguma coisa até pra ele. E o medo dele não é que, depois que ele me beijar, eu vá cobrar dele "agora que você me beijou, a gente vai ter que namorar, você vai ter que ser só meu". O medo dele é que ele queira ser só meu por livre e espontânea vontade.
Daí tá. Depois disso, ele tentou mais algumas vezes, mas não teve coragem.
Aí nessa sexta, dia 12 de novembro (só pra você se situar), ele estava um doce. Só que como eu já te contei, o Rodrigo às vezes tem crises. Tem dia que ele resolve que não quer mais sentir nada. Que ele quer voltar a ser só um cara galinha, sem gostar de mulher nenhuma. Numa dessas crises, ele já chegou a me chamar de irmãzinha. Eu sei, ridículo. Porque se tem uma coisa que nós nunca fomos é amigos. Nunca. Nada de "meu amigão Rodrigo". Nunca foi assim entre a gente. Aí nessa sexta, ele teve uma crise dessas. E quando ele tem isso, ele começa a querer me provar o quanto ele não presta. Aí ele me conta coisas sexuais cabeludas que ele já fez e profere frases machistas e cretinas.
Aí eu estava lá com ele e o Carlão, assistente administrativo. Antes de eu trabalhar lá na empresa, o Carlão era tipo o melhor amigo porcão do Rodrigo. Eles trocavam confidências sujas e conversavam coisas do tipo "nesse final de semana, comi Fulana" e "nooossa cara, que tesão! A Fulana que eu peguei era mó gostosa". Aí eu cheguei na empresa e o Rodrigo parou de dar tanta atenção para o Carlão e começou a dar mais atenção pra mim. Tipo, o Rodrigo passou a dedicar a maior parte do tempo pra mim, pra conversar comigo, pra ficar comigo, e deixava o Carlão totalmente de lado. E o Carlão por muito tempo teve raiva de mim por causa disso. Hoje ele gosta de mim, mas de vez em quando ainda me cutuca. Enfim. Aí estava eu lá no setor deles com o Rodrigo e o Carlão (eles trabalham na corregedoria e eu no recursos humanos), quando o celular do Rodrigo tocou. Ele: "atende pra mim, Vanessa, por favor e vê quem é". Eu olhei: "Não quero mais fazer isso, Rodrigo".
Pausa pra explicação: o Rodrigo come as gurias e depois elas ficam ligando pra ele, atrás dele desesperadas, só que daí ele não quer mais. Só quer comer e tchau. E por algum motivo, elas se apaixonam por ele. E uma vez ele pediu pra eu atender o celular dele porque era uma garota de quem ele estava fugindo. Eu atendi e, nossa, fiquei super sem jeito, me arrependi na hora. A garota ficou lá, achando que eu era namorada, sei lá, toda tímida e eu morrendo de vergonha, tentando ser simpática com a garota. Foi horrível. Eu desliguei e meti a boca no Rodrigo: "Nunca mais pede pra eu atender o seu celular! Os seus pepinos você resolve, não larga na minha mão! Nunca mais faz isso". Ele ficou todo perdido e essa foi a primeira vez que ele me pediu desculpas com todas as letras. Burra eu que atendi. Mas enfim.
Aí ta, a gente lá, ele pediu pra eu atender o celular, eu não quis e ele não atendeu. O Carlão nesse dia estava me cutucando, então já riu da minha cara quando eu falei que não queria mais fazer isso. Riu dando a entender "hahaha, a secretária do Rodrigo". Bom, aí deu um tempo, chegou uma msg no celular do Rodrigo. Ele olhou pra mim e fez cara de "ai", rindo. Eu perguntei o que foi e o Rodrigo leu em voz alta: "Na hora do bem bom, você é homem. Na hora que eu preciso de você, você some". Uma tal de Rebeca mandou pra ele. Eu revirei o olho, achando absurda a postura do Rodrigo. Ele: "Ah Vanessa! Comigo é assim". Eu argumentei com ele um tempo, dizendo que ser homem era bem mais do que aquilo e ele, no ápice da crise, disse que com ele era assim, que ele comia todas e não sei o que. Nessas alturas, o Carlão estava indo ao delírio, claro. O Rodrigo é o ídolo dele. O sonho dele é pegar mulher gostosa com o mesmo desprezo e na mesma quantidade que o Rodrigo pega.
Eu perguntei por que a garota tinha escrito aquilo e o Rodrigo disse, imitando uma criança choramingando: "Ai Rodrigo, você me comeu e agora não quer mais nada comigo. Ah! Por favor! Eu não sou psicólogo". Eu disse: "Tá, o que você falou pra essa garota pra ela estar atrás de você assim?". Ele: "Eu deixei tudo bem claro desde o começo. 'Ó, você quer me dar, beleza. Mas já aviso que eu não quero compromisso'. Comi e agora ela tá aí, choramingando, dizendo que eu sou insensível. Porra, tô errado?". Assim, Gaby, eu não vou defender a menina porque só fazem com a gente o que a gente deixa. E o Rodrigo é mesmo muito direto, ele faz questão de deixar bem claro o que ele pensa. Ele não tem vergonha de ser como ele é. Mas pô! Precisa ser tão porco assim?!
Fiquei super chateada. Então chamaram o Rodrigo, ele deu uma saída, e o Carlão, que estava indo ao delírio com a porquisse tão explícita do Rodrigo (e também porque o Carlão sabia que, com isso, o Rodrigo estava me decepcionando), disse: "O Rodrigo tinha que deixar bem claro pra essas mulheres que ele só quer comer o rabo delas". Olha isso. "Como ele quer fazer com a garota aqui da corregedoria". Eu: "Que garota?". Ele: "Ih, opa, falei demais", como se ele realmente tivesse deixado escapar. Mentiroso. O Carlão já mentiu várias vezes pra me deixar brava ou com ciúmes do Rodrigo. E eu e o Rodrigo sempre brigamos quando o Carlão faz isso. O Carlão adora ver a gente brigar. Mas ao mesmo tempo, pode ser que o Rodrigo esteja querendo dar um trato em alguma garota que trabalha lá na firma porque ele é porcão. É tipo 50% de chances pra cada coisa. Pode ser mentira do Carlão, como pode ser verdade. Aí quando o Rodrigo chegou, eu perguntei da garota. O Rodrigo disse que era mentira, meio rindo com o Carlão. Porque assim, o Carlão influencia o Rodrigo com muita facilidade quando ele está nessas crises de não querer sentir nada. Aí eu me irritei e saí.
Nesse dia eu ia embora de carona com o Rodrigo. Falei pra ele que ia esperar ele lá embaixo. E desci.
O Rodrigo chegou acompanhado de um amigo nosso, pra dar carona pra ele, com medo que de ficar sozinho comigo porque achou que eu ia estar brava. Mas como que eu ia ficar brava, Gaby? Eu não tenho nada com o Rodrigo. E não era eu quem ele tinha comido e largado na rua da amargura. Na verdade, o que acontece é que esse lado Jorge Tadeu Saddam Hussein do Rodrigo me assusta muito. Ele parece esse Dom Juan terrorista, que quer pisar nas mulheres e acabar com todas elas. Como se ele quisesse provar pra ele: "AÍ Ó, TÁ VENDO?! EU NÃO PRECISO DELAS! EU NÃO SINTO NADA, EU NÃO AMO NINGUÉM!". Ele chegou e perguntou pra mim: "Ta brava comigo?". Eu: "Não, ué". Aí eu fico quieta, não porque eu estou brava, mas porque eu estou pensando. Pensando nesse lado horroroso do Rodrigo. Ele chegou no carro já arrependido. Ele tem a crise e se arrepende. Aí ele quer me conquistar de novo. Fica todo cuidadoso, tentando me agradar, perguntando coisas.
Ai Gaby... que saco, viu. Eu gosto do Rodrigo, mas é nítido que não é pra ser. Eu estou morrendo de vontade de beijá-lo, mas o que eu faço com as 14 toneladas de insegurança que vou sentir depois do ato? Eu vou ficar paranóica pensando se ele vai me esnobar, se ele vai ter uma dessas crises de novo. Ai, eu estou pedindo ajuda pra Deus, porque eu sei que Ele não quer que eu fique com o Rodrigo. Quer dizer, ele é um doce, ele é lindo, ele é original... Eu gosto muito nele. Mas não dá! Eu não posso lidar com isso. Eu não posso estar com alguém que quer matar e destruir todas as mulheres do mundo. Tudo bem ser galinha, mas poxa, o mínimo de caráter. Gente, o mínimo!
Não sei, Gaby... Estou tão perdida. Eu cheguei em casa nessa sexta e caí no sofá de cansaço físico. Cansaço de me segurar perto dele, de querer beijá-lo e não poder, de ficar quebrando a cabeça, arrumando formas de me afastar dele, de lutar contra a minha vontade de voar no colo dele e mordê-lo inteiro, de me decepcionar com essas crises maléficas do Rodrigo. Eu estava completamente pregada. Eu não agüentei chegar na minha cama. Caí no sofá mesmo. E chorei. Chorei o que eu estava segurando por meses. Eu parecia aquelas loucas chorando. Quem visse, ia achar que eu ia estar tendo um enfarto. Eu chorei, chorei, chorei muito. Me derramei. Pedi socorro pra Deus porque eu gosto do Rodrigo, Gaby. E eu sei que ele gosta de mim. Eu vejo o quanto ele sofre também porque fica confuso, quer me beijar, mas sabe que não pode porque o que eu quero ele não pode me dar porque não está preparado. Porque a vida sentimental dele é muito imatura. A ponto de ele ter chiliques absurdos de ciúmes e nem se tocar que está sendo ridículo. Ele tem as demonstrações mais primárias do que está sentindo. É assim porque pra ele é novo. Ele não está com comportamentos automáticos, não possui vícios ainda, que a gente acaba pegando com o tempo, a medida que vai gostando de pessoas e tomando na cabeça.
Ai Gaby... Que saco, viu... Duzentas mulheres querendo dar pra ele e eu aqui, querendo casar virgem. É muito diferente. Não tem como ir pra frente. E como eu sofro...
Beijo, amiga.
Vanessa
Querida Gaby...
Lendo o seu blog, quis contar o que aconteceu comigo há um tempo atrás, quando me apaixonei por alguém que não era pra mim.
Eu entrei onde trabalho hoje como estagiária. Eu estava no último ano da faculdade e ficava lá só de manhã. Chegava às seis e meia da manhã, pra ajudar a minha chefe e saía sempre 13h30. Uma das minhas tarefas era organizar uns relatórios do que foi feito pela equipe da manhã “para o Juliano”, a minha chefe dizia. Eu digitava no topo da página “PARA O JULIANO” e escrevia o que tinha que ser escrito e imprimia. Deixava o papel sobre uma mesa lá na redação pro tal Juliano pegar e ia pra casa.
Claro que eu perguntei quem era o Juliano, por curiosidade. “É o produtor da tarde”, minha chefe disse. Beleza.
Bom, como eu era uma moça muito muito esforçada, comecei a ficar o dia inteiro na empresa. Comecei a me encher de coisa pra fazer, me oferecer para outro monte de coisas, até que, quando eu vi, eu estava trabalhando até às 17h. E olha que o estágio era de graça.
Um dia estava na sala da Andressa, outra produtora, conversando com ela e mais um monte de mulher, dando muitas risadas. Estava meio que no horário do almoço, única parte do dia que eu tinha uma folguinha. De repente, entra na sala aquele cara.
Pareceu câmera lenta. Entrou aquele garoto alto (tinha 1,90), pele branquinha, boca desenhada, cabelo castanho claro bagunçado liso caindo nos olhos, corpo bonito, calça da M Officer desbotada e camiseta preta com uma bandeira da Alemanha no peito, a camiseta era curta e aparecia as laterais do corpo, todo largado, nem aí. Lindo. Ele entrou, cumprimentou todas as meninas e saiu. E me largou babando por aquele ar de mistério que ele tinha, de bomba relógio, de perigo.
Perguntei na hora, discretamente: “Quem é ele?”.
A Andressa: “Esse é o Juliano. Não conhecia? Ele pegou duas semanas de folga, voltou hoje. Ele é bem queridinho, sempre vem aqui cumprimentar”.
Decidi que eu tinha que me aproximar dele. Queria saber mais. O cara parecia ter saído de um seriado!
Bom, comecei a ajudar mais o pessoal do setor dele. Como quem não quer nada, fui falar com a minha chefe dizendo que eu queria aprender mais e ela disse exatamente o que eu queria ouvir: “Melissa, por que você não troca uma idéia com o Juliano? Ele é um bom produtor, vai te dar umas dicas boas. Começa a ficar lá a tarde, pra você acompanhar o trabalho”.
E foi o que eu comecei a fazer. Apareci um dia no setor dele e lá estava, sentado ao lado do telefone, trabalhando. Entrei, pedi licença e expliquei tudo. O Juliano foi super simpático, disse que eu podia ir lá quando eu quisesse, já puxou papo e foi me explicando as coisas. Ele era ainda mais lindo de perto. O olhar dele te engolia. Ele tinha uma coisa que eu não sei explicar.
Comecei a ir lá todos os dias. E a gente conversava muito.
Conhecendo o Juliano eu descobri que ele realmente era perigoso. Tinha 23 anos na época, fazia aniversário um dia antes que eu e tinha uma filha pequena chamada Juliana. Com 23 anos, ele já tinha uma filha pequena! Levei o maior susto, mas imaginei que havia um lado bom: quem tem filha daquela idade deveria ser responsável e maduro. Engano meu.
Ter uma filha não o constrangia nem um pouco. Tocava em uma banda de rock, era extremamente galinha e comia mulher em banheiro de boate, comia mulher desconhecida, comia duas mulheres ao mesmo tempo. Era totalmente destrambelhado, curtia uma cerveja, tinha perdido o pai muito cedo (ele adorava o pai) e a mãe dele era uma maloqueira bonitona que criou os filhos meio largados.
Apesar (ou por causa) do histórico, mulheres de todas as idades davam em cima do Juliano. Na empresa, todas se abriam pra ele. O Juliano atraía com a sua cara de bebezinho e seu jeito perigoso.
Eu não sei te dizer em que momento tudo aconteceu, mas nós grudamos. Durante dois meses que eu ia lá diariamente, a gente se aproximou muito. E de um jeito que nem eu esperava. No começo, ele me tratava como irmãzinha. Me contava todas as porcarias que fazia quando saía a noite. Eu gostava dele, mas tinha plena consciência de que não tinha a menor condição de eu alimentar qualquer coisa (o cara era muito sem vergonha).
Mas com o tempo tudo mudou. Ele começou a me tratar diferente.
Na empresa, nós estávamos sempre juntos. SEM-PRE. Na hora de ir embora também, eu ia com ele todos os dias de carro até um trecho do caminho. Logo a minha chefe e as colegas de trabalho começaram a perguntar se estávamos namorando. Eu dizia que não, falava que não tinha nada a ver, que éramos só amigos. O que não era mentira, era só isso mesmo.
Perguntavam pra ele também, mas o Juliano não se incomodava. Pelo contrário, adorava. Vinha me contar com um sorrisinho sem vergonha, olhando no meu olho:
- Melissa, sabe o que vieram me perguntar hoje?
- Claro que eu sei. Estão perguntando pra mim também.
- E o que você acha de namorar comigo, Mê?
Eu olhava pra ele com uma sobrancelha levantada e dizia:
- Vai cagar, Juliano.
Ele se matava de rir.
Aí com o tempo, a gente ficando mais junto, ele começou a fazer umas coisas esquisitas
Espalhou que a gente estava namorando. Um dia, chegou pra mim, com o mesmo sorrisinho sem vergonha:
- Melissa, sabe a Dona Amélia, que serve o café?
- Sei.
- Veio perguntar pra mim se a gente está namorando.
- Mmm.
- E eu falei que nós estamos. Falei que eu tinha te pedido em namoro e você tinha aceitado.
- Falou?? Juliano, ficou doido?
- Não. Ela gostou, disse que já suspeitava. Me abraçou e disse que a gente combina.
- Ai... Ela disse que a gente combina?
- Disse. Ah, mas isso eu já sabia.
- Vai cagar, Juliano.
Eu xingava ele, meio rindo, e ele adorava. Se matava de rir. E me abraçava.
O negócio foi piorando. As pessoas perguntavam pro Juliano sobre a gente e ele confirmava, dizia que era namoro mesmo. Aí eu falava que não era, ninguém acreditava. Sabe o que ele fazia? Ia me visitar no meu setor, olhava pra mim e me cumprimentava, com o mesmo sorrisinho. Todo mundo fazia aquele “ÉÉÉÉ, TÁ NAMORANDO”. Eu fazia cara de ai-me-poupe e o Juliano com o mesmo sorrisinho pra mim, dava uma piscadinha, mandava um beijinho e saía, dizendo “Tchau, meu amor”. Eu nem tentava consertar.
Eu fazia caretas porque não poderia demonstrar que gostava dele. Se o Juliano sequer imaginasse como eu estava apaixonada por ele, com certeza me comeria viva! Sabendo dos meus sentimentos, ele poderia fazer o que quisesse. Eu não podia deixar, precisava me proteger.
E a gente cada vez mais junto.
Ele me tratava agora ainda mais diferente: com todo o cuidado, como se eu fosse de porcelana. Eu faltava ou tirava folga, ele me ligava no celular. Sempre. Pra saber onde eu estava, com quem eu estava... Uma vez, minha chefe me deu um dia de folga porque eu tinha feito umas horas extras. Aproveitei pra sair com uma amiga. E enquanto eu contava sobre o Juliano, de como as coisas estavam diferentes, que ele parecia se importar demais comigo, ele ligou no meu celular. A minha amiga não acreditou.
- Cadê você, Melissa.
- Oi Juliano. Estou de folga hoje.
- Mmm. E onde você está?
- Estou com uma amiga.
- Quem mais.
- Só a minha amiga.
- Estou com saudades de você, Melissa.
- Está nada.
- Estou sim.
- Não se preocupe, a gente vai se ver essa semana.
- Você sabe que eu te amo.
- Vai cagar, Juliano.
Ele dava uma gargalhada:
- É verdade, Melissa. Não tem a menor graça sem você aqui.
- Acostuma a estar sempre junto, não é.
- É.
- Mas então tá, eu tenho que ir.
- Eu te amo, tá?
- Eu também te amo. Beijos.
A minha amiga me olhava de olho arregalado.
Eu não levava o Juliano a sério. Não tinha como levar. Ele continuava comendo tudo o que era mulher que eu bem sabia. Tudo bem que ele não me contava mais as coisas, mas eu sabia que ele ainda era galinha.
E a coisa foi piorando. A gente saía sempre, mas claro, só programas diurnos. Ele me levava numa confeitaria bem gostosa perto da empresa, íamos passear no shopping depois do trabalho, eu ia comprar coisas com ele. Nós conversávamos muito. E puxa... Ele era tão carinhoso comigo. Tão gentil. Me dava presentinhos bobos, me levava no médico quando eu tinha consulta, me chamava de “pequena”.
Uma tarde ele entrou na minha sala e, como sempre, olhou pra mim com um sorrisinho sem vergonha e me cumprimentou, como se não tivesse ninguém mais por perto. As meninas começaram a tirar com a minha cara (elas não se cansavam), dar risadinhas e fazer piadinhas, e o Juliano fez algo que eu não acreditei. Falou:
- Bom meninas, eu queria oficializar pra vocês que eu e a Mê estamos mesmo namorando. Ela é o amor da minha vida.
Eu olhei pra ele e disse: “cala a boca, Juliano!”.
As meninas aplaudiram. E ele só rindo pra mim dizendo:
- Eu te amo, Melissa. Você é meu amor! – bem alto. A sala quase veio a baixo com os gritos das meninas.
E a nossa “amizade” virou assunto. Todo mundo comentava.
Vinham perguntar pra mim, eu dizia que não estava namorando com ele mas ninguém acreditava. Eu dizia “gente, o Juliano está só brincando, a gente não tem nada”. As pessoas diziam “ahan, sei... Vocês não se desgrudam! Não vem com esse papinho”.
Eu desisti. Nem falava mais nada.
A coisa foi ficando mais séria. O Juliano vivia agarrado em mim, abraçado, dizendo que me amava, me olhando com cara de bobo. Eu já estava com roupas dele. Casacos, moletons... Ele me emprestava pra eu levar pra casa em dias de frio. Levou o melhor amigo dele lá na firma me conhecer. O cara era do mesmo estilo dele, largado-bonitinho, só que menos bonitinho.
- Então você é a Melissa? – o amigo dele disse pra mim, rindo.
- Ahm, sou eu.
Saímos da empresa naquele dia e fomos prum boteco do centro tomar cerveja. Quer dizer, eles na cerveja, eu no suco de laranja. O Juliano me tratou como namorada. Segurou a minha mão embaixo da mesa e foi muito gentil. Eu estava me sentindo estranha, porque era sem hesitar uma situação de avaliação, mas não me deixei abater. Falei um monte e o cara riu pra caramba comigo.
Bom, a gente levava vida de namorado. Brigava bastante também, só não beijava.
O clima entre a gente estava cada vez mais forte. Um sábado a noite, quando eu estava me arrumando para sair, o meu celular tocou. Era ele. Meu coração disparou. Ele nunca tinha me ligado num sábado a noite.
- Juliano? Oi.
- Oi Mê. Em quinze minutos eu estou aí. A gente vai sair. Se arruma e desce. Beijos.
E desligou.
Ele parecia todo decidido no telefone. Como se quisesse resolver algo.
Coloquei uma roupa mais bonitinha e desci.
Ele estava no carro, me esperando. Eu estava MUITO nervosa. Morrendo de medo que ele quisesse só ficar, me agarrar e tchau, tirar uma cisma.. Sei lá. Não queria que ele me magoasse.
Entrei no carro mentalizando o seguinte “calma, é só o Juliano, o seu amigo. Vocês se dão super bem, não tem o que temer. Ele te respeita sim. Aja normalmente. Não é um encontro”.
Fiquei mais tranqüila e entrei no carro conversando normal. O Juliano estava mais quieto, só me ouvindo falar. Depois de umas piadinhas que eu fiz, voltou a ficar quieto. Só eu falava.
No lugar (fomos num barzinho cultural bem gostoso) o Juliano estava mudo. Parecia... Inseguro. Meu, eu não entendi nada, nunca tinha visto ele daquele jeito. Parecia um menininho apavorado. Não deixei me abalar, continuei normal, puxando assunto, conversando. Ele me olhava, sorria, mas estava totalmente amedrontado.
Ficamos lá até tardinho e fomos embora. O caminho inteiro fui pensando no que eu ia fazer quando ele parasse aquele bendito carro na frente do meu prédio. A minha barriga doía, eu estava com vontade de vomitar o que eu tinha comido, super nervosa. Eu tinha medo de dar a entender qualquer coisa errada, medo de ele pensar que eu queria que ele me beijasse só porque a gente saiu, que ele tentasse me agarrar de um jeito horrível, galinha, que me magoasse.
O carro parou. Eu disse “foi muito legal, Juliano. Não foi?”. Ele fez que sim com a cabeça, olhando pra mim, com aquela cara de quem está tomando coragem. Entrei em pânico. Falei “bom, acho melhor eu indo. Tchau, Juliano, obrigada”, dei um beijinho nele e saí correndo, fugida mesmo. Cheguei em casa e corri pro banheiro.
Na segunda, ele veio me dar oi com a maior cara de apaixonado. Eu também, né, toda suspirando. Ele perguntou como tinha sido meu final de semana. Eu falei “foi bom. A gente saiu”. O Juliano sorriu todo carinhoso.
Num dos dias que ele me deu carona, dei tchau pra ele e, quando eu desci, ele disse pela janela, já com o carro ligado:
- Melissa, amanhã eu vou fazer uma surpresa pra você.
- Surpresa?
- É. Não passa de amanhã.
- Olha lá o que você vai fazer, Juliano. O que que é? Eu vou gostar?
- Vai. Acho que vai. Quer dizer, não sei.
Eu sabia o que era. Era um beijo. Mas ele não ia ter coragem.
No dia seguinte, eu estava na minha sala sozinha, quando ele apareceu na porta. Ele me olhou sério e tomou coragem. Veio andando na minha direção, decidido, eu só olhando. Chegou em mim e... Não conseguiu, me beijou no canto da boca. Então escondeu o rosto no meu pescoço e disse “droga, eu não consigo!”, com voz de choro. Eu ri e passei a mão pelo cabelo dele. Eu sabia que ele não ia conseguir.
Na época, o diretor da empresa, nosso chefe, chamou o Juliano na sala dele. Deu uma bronca nele porque ele não saía da minha sala. “Não dá, Juliano, você tem que ficar no seu setor! Você não sai lá da sala da Melissa. Conversa com ela depois do trabalho, mas na hora do expediente você tem que cuidar do seu trabalho”. Sabe o que o Juliano respondeu: “Sabe o que é, Armando? Eu estou apaixonado pela Melissa. Não consigo mais ficar longe dela”. O diretor riu, achou bonitinho, e disse só pra ele maneirar as visitas.
Eu estava preocupada, sabia que ele tinha sido chamado na sala do Armando. Quando saiu de lá, o Juliano foi me ver. Chegou rindo com o Zé.
- Não era nada demais? – eu perguntei.
- Ele me deu uma bronca porque eu estou vindo muito aqui te ver e estou largando o meu trabalho.
- E aí?
- Aí eu disse que não conseguia mais ficar longe de você. Que estava apaixonado.
Eu ri, né. Lógico que não acreditei.
- Ai Juliano, me poupe a beleza.
- Verdade. Foi o que eu disse.
Como acabou essa história? Bom, o Juliano começou a querer me falar do que sentia, eu percebia que ele não agüentava mais aquela situação. Fazia milhões de convites pra sair. E me deixava arrumada esperando em casa. Me deu um monte de bolos. Medo puro. Ele quem me convidava! E me deixava plantada. Como se na última hora, se arrependesse. Na sétima ou oitava vez que ele fez isso, eu fiquei realmente brava. E meio que dei um gelo nele. Devolvi as roupas dele que estavam comigo e fiquei na minha. Parei de ir atrás.
Já era época de Natal. Dois dias depois, eu tirei 5 dias de folga. Quando voltei, o Juliano não trabalhava mais lá. Depois disso, nunca mais o vi. Como eu sofri.
Ele mandou um amigo dele me ligar um ano depois... Mas eu não dei corda.
No começo desse ano, o Zé, que sempre estava com a gente, veio me contar que o Juliano estava na Austrália estudando e que ele queria muito conversar comigo, queria meu msn. Cinco anos depois, gente. Desconversei.
Aí semana passada, o Zé sentou conversar comigo.
- Melissa, agora que já passou tanto tempo, que não tem mais nada a ver... Eu preciso te contar.
- O que?
- O Juliano era completamente apaixonado por você.
- É mesmo?
- Melissa, ele queria muito te contar o que sentia. Mas morria de medo. Eu queria ajudar o cara, mas o Juliano não saía da pose de machão, não admitia que queria namorar você. O único dia que ele soltou mesmo foi uma vez que nós fomos jogar sinuca, só eu e ele, tomamos umas cervejas e o cara começou a desabafar. Disse que nunca tinha conhecido ninguém como você, que te achava linda, que você era pra casar...
- Caracas, Zé.
- Ele dizia assim “Zé, com a Melissa eu caso. Eu quero casar com ela, cara. A Melissa não é qualquer mulher, ela é especial. É diferente. Quero casar com a Melissa, cara, quero mesmo”.
Eu fiquei passada, né. O Zé continuou:
- Pena que ele era tão frouxo, Melissa. Ele morria de medo de você. Não tinha idéia de como agir ao seu lado. Sabe o que ele fazia? Vinha com uns papos de que um amigo dele que sempre foi filho da puta estava completamente apaixonado por uma menina, mas como sempre tinha sido filho da puta e nunca tinha gostado de ninguém, não sabia o que fazer. No final, ele perguntava se eu achava que esse amigo dele devia conversar com a menina.
- E você dizia o que?
- Que sim, que ele devia falar.
- Caracas... Que engraçado.
- O Juliano só falava de você, Melissa. O dia inteiro. Pra você ter uma idéia, ele parou de dar moral pra mulherada aqui da empresa por tua causa. Um dia, uma lá que sempre dava em cima dele foi convidar ele pra sair, sabe o que ele fez?
- O que?
- Ele disse “Some daqui, piolhenta”. Me matei de rir. Eu vi ele fazendo isso! E a guria não era feia não. Ele tinha medo que alguém visse, te falasse alguma coisa e você ficasse pensando coisa errada, que não tinha a ver. Ele era louco por você, Melissa.
- Nossa...
- Pra você ver... E aquele dia do Armando, que chamou ele na sala dele e o Juliano disse que não conseguia ficar longe de você e tal, é verdade. Ele falou mesmo aquilo pro chefe.
É mole?
Até hoje eu lembro dele com carinho.
Três anos depois, eu conheci o Felipe. Lindo. E com caráter. Cheio de defeitos, mas meu amor. Ele sim soube me amar. Foi homem o suficiente pra vir e dizer o que sentia. Pra dizer que não conseguia parar de pensar em mim e que queria namorar comigo.
Mas essa história eu conto outra hora.
Pra você ver, essas coisas realmente acontecem...
Melissa
..:*:..:*:..:*:..:*:..:*:..
Melissa...
Fico feliz que tenha encontrado alguém pra você. Às vezes, uma cara de bebê e uma história de amor escondem alguém sem caráter, incapaz de nos fazer feliz. Espero que o Juliano tenha aprendido que mulheres são seres humanos e não coisas. E, como você, tenha encontrado alguém especial. Beijo pra você.
SOS Gaby!!
basicamente ocorre que minha mãe é uma criança de seis anos. basicamente ocorre que, pra ela, tudo é um grande e cinematográfico drama. ela acha que amar é depender. então como eu e meu irmão não dependemos dela, a progenitora acredita que nós somos "diferentes dos outros filhos". porque na cabeça dela os outros filhos são super fiéis à mãe e extremamente devotos. que pagam as contas pra mamãezinha na Pernambucana (mamãezinha esta que é mulher feita e não consegue se organizar pra pagar as próprias contas no caixa, pelo amor de Deus!, ela tem 45 anos na cara!), que lavam a loucinha sagradamente e que penduram a roupa quando ela está na máquina de lavar, prontinha e limpinha. minha mãe sempre teve essa coisa de "precisar" da nossa ajuda pra tudo. até pra resolver os problemas nos namoros dela, que aliás eram fiasco atrás de fiasco, até pra isso ela precisava da nossa ajuda (teve uma vez que ela namorou um débil mental que só arrumava brigas por ciúmes e numa noite, eles vieram me chamar pra dar uma opinião sobre os conflitos imbecis deles, foi nojento)! a verdade é que minha mãe é uma criança de seis anos que procura colo o tempo inteiro nas pessoas erradas.
ela é de pedir dinheiro emprestado, de pegar as minhas maquiagens (porque tudo o que eu tenho é mais legal), de querer ficar amiga das minhas amigas (ela trocava scrap no orkut com uma delas, uma vez disputou a atenção de uma melhor amiga minha comigo e por aí vai), de querer atenção e eterna gratidão do meu namorado só porque ela dá caronas pra ele às vezes e faz uns almoços, minha mãe acha que eu tenho que ser amiga dela e ouvir as segredos dela sobre paqueras, sobre fofocas, sobre demitir ou não um funcionário (meu, ela é que tem 45 anos! não eu!)... e tudo isso, essa xaropice toda, essa cobrança chata de "eu quero depender de vocês e quero que vocês dependam de mim" fez com que eu e meu irmão fôssemos nos afastando dela. às vezes a gente fingi uma coisa ou outra só pra ela não ficar chiando porque se você diz "não, mãe, eu não quero pagar aquela sua conta pra você porque tenho as minhas próprias filas pra enfrentar" ou "não mãe, eu não tenho 30 reais pra te emprestar porque eu acho que é você quem deveria se organizar" ou "não mãe, desculpe, eu não quero ser sua melhor amiga, por favor, arranje uma amiga pra quem você possa contar sobre as suas paquerinhas, eu realmente não quero ouvir porque eu sou filha e não sua companheira de quarto, é estranho e desconfortável te ouvir falando de homem e de vontade de fazer sexo", se você diz qualquer uma dessas coisas pra ela, cara, ela surta. ela já ficou duas semanas sem falar comigo porque eu recusei uma negociata que ela me propôs! "filha, já que você vai ter que pegar táxi mesmo, me paga o que você ia gastar com o táxi que eu te levo". meu! olha que coisa de gente oportunista! eu não aceitei e ela ficou duas semanas sem falar comigo. "você nunca quer ajudar a sua mãe!!", ela berrou e bateua porta. não quero mesmo, não quando ela age como uma jogadora do bicho. ¬¬
aí a gente se afasta dela, a mulher ainda chora, joga as mãos pro céu e pergunta: "por quê, meu Deus, por quê!!". é simples, porque você é bizarra.
o meu namorado estava aqui hoje. ela simplesmente vira e pergunta: "genro, você pode pagar uma continha pra mim na Pernambucana?". ela queria dar o dinheiro e a fatura e queria que ele fosse lá efetuar o pagamento. eu olhei pra ela com a maior cara feia e disse que ele não ia pagar (pô, as calcinhas, sutiãs e blusas são dela!). ela deu um chilique absurdo e falou, na frente dele: "mas eu faço tanto favor pra ele, por que ele não pode fazer um pra mim??". você acredita que ela disse isso, Gaby?? que essa mulher louca, com 45 anos na cara, falou na frente do meu namorado que faz um monte de favor pra ele?? ela não consegue pagar as próprias contas, Cristo! é patético! foi lá, bateu a porta do quarto e se trancou lá dentro. gente, ela pede pra todo mundo pagar as contas dela da C&A, da Marisa, da Renner, da loja da Tia Gorda! Jesus, eu quase morri de vergonha! o meu namorado ficou super sem jeito, claro!, ela deixou ele numa posição totalmente desagradável! Jesus, todo mundo paga seus boletos nessa vida e enfrenta suas filas! por que minha mãe não consegue?? não é só ela que trabalha demais nesse mundo! hoje em dia, você paga as coisas pela internet, débito automático, correio, sei lá! mulher pidonxa. agora, como sempre, ela vai ficar duas semanas sem falar comigo. normal, estou acostumada já. depois ela fica chorando, perguntando pra Deus por que os filhos dela são diferentes.
e Gaby, não é querer fazer comparação, mas já fazendo. o meu pai é super legal nessa parte. ele é pai, entende. não é uma criança de seis anos que vive me pedindo as coisas. dá gosto de fazer as coisas pra ele porque meu pai nunca pede. quando ele pede, é até uma honra fazer. você se sente realmente filha com ele, sabe como é? com a minha mãe, cara, é um saco, porque ela precisa de todo mundo o tempo inteiro! ela nunca se vira sozinha, ela nunca resolve, nunca sabe o que fazer, ela nunca tem tempo porque trabalha demais e trabalhar demais é algo que a impede de fazer qualquer outra coisa, por isso ela precisa de ajuda pra viver a própria vida dela. EU ESTOU DE SACO CHEIO! você tinha que ver a cena que ela fez hoje com a história do boleto. um verdadeiro show, um chilique de primeira categoria. eu não suporto ficar perto dela às vezes. esses dramas que ela faz, toda necessitada, toda meus-filhos-não-me-amam. poxa, eu queria ter uma MÃE de verdade, uma MÃE normal, que orienta, que ajuda, que mostra o certo, que educa com paciência e carinho, e não uma irmã egoístinha, que cobra cobra cobra, é carente e dá chiliques o tempo todo de "meus filhos não fazem nada por mim". quanto mais ela é assim, mais eu quero distância dela. coitado do meu namorado... ficou tão sem graça.
o que que eu faço, Gaby?
com carinho, a Filha Sufocada.
querida Filha Sufocada.
no seu lugar, eu já teria explodido. acho que a solução é se mudar para a garagem.
beijos, Gaby.
a família do meu namorado foi embora pra Minas Gerais. todos os parentes da minha sogra são de lá. e ela desde que eu a conheço fala em voltar pra cidade, morar com toda a parentada num mesmo terreno, juntos pra sempre e aquela coisa toda totalmente interiorana. eles sempre falavam que iam pra lá, mas nunca iam efetivamente. aí nesse ano, eles decidiram. no começo, a gente achou que era mais uma conversa mole, mas que nada, era verdade, "no duro".
mais ou menos em julho essa história começou. e o meu namorado deixou claro desde então que ele não iria junto, que ficaria. agora você imagine o que é isso para uma mãe que sempre teve um relacionamento durepóx com os familiares, principalmente com o filho mais velho (que coincide de ser o homem com quem eu pretendia me casar). a minha sogra fez de TUDO o que você imagina pra ele ir, lógico, super no direito dela. chorou, fez chantagem, ameaçou passar mal, disse que ele tinha que ficar com a família para sempre... milhões de argumentos. sugeriu pra mim que "deixasse" ele ir, fazer a vida por lá pra depois vir me buscar. eu não disse nada desde o princípio. preferi observar a movimentação toda.
o menino bateu o pé e disse que ia ficar, que tinha planos de construir uma vida comigo. mas pra isso ele precisava de um emprego e lugar pra ficar. nossa, foi sofrido. a família pressionando de lá, eu tentando apoiá-lo daqui, ele correndo atrás das coisas e desesperado porque nada dava certo, a gente orando, pedindo pra Deus fazer o melhor... foi muita choradeira, muito stress, muita briga, muito pepino e desentendimento. a mãe dele fez tudo pra ele não ficar. e ele fez tudo pra ficar. e eu não fiz nada, só fiquei do lado dele, tentando ajudar, consolar... não foi fácil, chorei muito. achei que ele não ia conseguir. a gente leva tanto tempo pra encontrar alguém, puxa vida...
mas olha só. parece que Deus é a favor do casamento mesmo. tudo bem que está lá na Bíblia, em Gênesis 2:24: "Portanto deixará o homem o seu pai e a sua mãe, e apegar-se-á à sua mulher, e serão ambos uma carne", mas na prática a gente nunca sabe como vai ser.
o que eu entendo, observando tudo o que aconteceu, é que uma hora a gente cresce e não dá mais pra ficar seguindo pai e mãe. você ama seus pais, claro que sim, mas todo mundo precisa seguir seu rumo, não é verdade?
apesar de pensar assim, te juro que pensei que o meu jaguara não ia conseguir. que ele ia ficar com a mãe e o pai. mas sabe... ele me surpreendeu. ele estava decidido e realmente batalhou pelo o que queria. e agora, ele está virando um puta homásso. que além de lindo, é cheio de hombridade. você disse no seu email: "É claro q ele tem vc e a sua família, mas família é família, né?". mas acho que isso é até que você casa e tem a sua própria família. essa é a diferença de quando você decide crescer e ser adulto. você olha pra frente, pro futuro, para o que você vai conquistar. e não para o que você já tem. porque quando a gente cresce, continuamos amando nossos pais, mas eles viram visitas de final de semana. porque agora quem importa mesmo são a esposa e os filhos. e chega uma hora na vida que a gente tem que escolher: ou eu corro atrás de mim ou fico estagnada no meu papel de filho. a decisão dói, claro que dói. mas é necessária e muito importante. claro que seria ótimo se todo mundo morasse na mesma cidade, se os meus sogros não tivessem ido... mas com o meu futuro esposo não foi assim, ele precisou escolher. e é essa decisão de hoje que vai a fazer toda a diferença no homem que ele vai se tornar amanhã.
não é fácil, viu... ele chorou bastante. mas tem ciência do quanto é importante esse momento. é o momento dele. é o momento em que Deus vira pra gente e pergunta: "você quer ser mais do que isso? quer ver como você se sai andando com as próprias pernas?". se você diz que sim, vai sentir muita dor e medo no começo, mas Jesus te ajuda, te segura, cuida de você, te dá força. e o futuro... te surpreende.
estou bem contente. ele sempre teve potencial pra ser um grande homem. é agora que eu vou vê-lo aparecer. não vejo a hora. chega de namorar um menino.
nesse final de semana que passou, o meu namorado veio almoçar aqui em casa. aí, depois de comermos, começou aquele momento TOTAL pançudo de campeonatinho de arroto. e como sempre, eu ganhei. eu sempre ganho (e confesso que me orgulho disso). após as minhas demonstrações chiquérrimas de talento nato, meu irmão virou para ele e disse: "cara, que beleza, hein. você namora um homem". na hora, fiquei indignada e reclamei, dizendo que eu era homem porcaria nenhuma e blá blá blá. então hoje no trabalho, fui contar para um amigo meu uma coisa que ele não podia contar pra ninguém. mas antes, eu o alertei da seguinte forma: "se você contar pra alguém, eu te dou um soco na boca. e você vai voltar banguela pra casa e daí quero ver arranjar desculpa pra tua esposa. vai ter que contar que apanhou de mulher". ele disse "fica tranquila, Gaby, relaxa", com uma cara de "beleza, beleza, mano". o comentário saiu tão natural que eu nem tchum. mas depois fiquei pensando... cara, eu acho que meu irmão está certo. eu tenho um jeito de homem às vezes. fui perguntar pro meu esposo o que ele achava, se eu tinha ou não, e ele riu. falou que eu sou meio mano sim, mas que ele gosta porque é a minha personalidade. acha legal eu não ser fresca, não ser como as outras meninas, gostar de videogame, arroto, piada caminhoneira...
mas mesmo assim... fiquei pensando. será que eu não deveria ser mais feminina? a minha mãe VIVE me xingando, dizendo que eu não posso ser desse jeito maloqueira, onde já se viu, tem que ser mais delicada, mais fina... eu nunca dei bola porque, bom, sei lá, é minha mãe, né. mães enchem o saco mesmo, é a função delas. só que agora eu entendo... pra quem vê, de fora, deve achar estranho. porque, quer dizer, eu me arrumo, uso maquiagem, mas arroto. isso chega a ser uma existência inadequada? é fogo.
isso nunca aconteceu com você? é que comigo acontece tantas vezes... eu estou passando por um momento difícil, desânimo total, dificuldades massacrantes, de repente eu ouço aquela música. e ela parece que entra em mim e aquela dúvida que vinha me consumindo parece que é respondida e todo o peso do meu coração desaparece. entra tantas vezes que isso me aconteceu, uma delas foi com Oh Happy Day. cara, a letra dela deveria tirar qualquer um da fossa.
mas a coisa mais legal aconteceu semana retrasada, só que com outra música. eu estava tão mal, com a situação do meu namorado. você tem idéia do que é o cara por quem esperou o resto da vida, que você ama tanto, de repente ter que ir embora pra outro estado longínquo e nem você nem ele poder fazer nada a respeito? pra ficar, ele precisava arranjar um emprego até um determinado dia. e o relógio está correndo, o namorado corre atrás de emprego que nem louco e nada, meu Deus o prazo está acabando!, e os seus sogros indo e nada de emprego... fazia dois meses que eu só chorava. dois meses chorando e com o coração apertado, com medo de perder o meu jaguarinha, a família dele também triste em casa, mas também rolando algumas brigas...! horrível. eu voltei a sorrir só na semana passada. tem noção? e porque eu ouvi essa música que eu sei que foi resposta pra mim.
eu coloquei pra tocar (recebi ela por email, bem nada a ver) e nossa... chorei pra burro. sabe, eu já vi Deus fazer coisas inacreditáveis na minha vida. e eu não sei porque duvidei agora. semana passada, o namorado conseguiu lugar pra morar (um amigo convidou ele pra dividir o apartamento) e ele já está trabalhando.
então, tem música que parece que fala com a gente. enche de otimismo e, com aquela letra simples, você compreende que não havia motivo suficiente pra ficar triste porque, no final, tudo fica bem.
já aconteceu com você?
Gaby...
sabe o que eu reparei namorando dois anos e meio? que às vezes, deixamos passar coisas graves que acontecem só porque amamos a pessoa ou porque não queremos briga. ok, vamos chama-lo de Bob. cara, quantas vezes Bob disse coisas horríveis pra mim em brigas ou me ofendeu ou fez brincadeiras estúpidas ou desconfiou de mim e eu deixei passar, pensando "ah tudo bem, ele ainda não amadureceu sobre isso". esse negócio de que o cara não amadureceu era sempre a minha desculpa pra fingir que não tinha visto que Bob tinha feito algo ou dito algo ou tomado certa postura em relação a mim que realmente me ofendeu. ele é mais novo, então a suposta "imaturidade" dele era sempre o que eu usava pra justificar os desrespeitos do meu namorado.
a gente meio que opta por ficar anestesiada.
houve um tempo em que Bob começou a ser MUITO grosso comigo. o tempo todo. e eu pensava "não, ele está nervoso com algo" ou "tadinho, ele é imaturo, não sabe lidar com os pepinos da vida dele e desconta em mim, está desempregado e tal..." ou "ele é imaturo, não aprendeu a lidar com mulher porque na casa dele, o pai dele é um insensível grosseiro e a mãe dele é uma infeliz, então ele está repetindo o papel do pai, não teve exemplo de relacionamento".
mas sabe, vou ser bem sincera com você. um dia, trocando uma idéia com Deus, eu me toquei de que Bob me deve respeito, independentemente da história de vida dele. não importa se o pai dele o ensinou a ser homem, não importa se o casamento dos pais dele é uma droga e ele só viu esse tipo de amor enquanto crescia, não importa, o Bob me deve respeito. porque eu o respeito, apesar da minha história de vida, que também não foi bolinho. meu, todo mundo tem uma história! atitudes como patadas, respostinhas atravessadas, piadas destrutivas, desconfianças, eu não tinha que aturar nada disso porque, graças a meu maravilhoso Deus, eu não fui encontrada numa lata de lixo. eu também tenho um papel importante nesse namoro e mereço respeito!
bom, parei de dar desculpinhas pra mim mesma. eu não tinha que livrar a cara dele pelos erros que ele cometia no namoro.
Bob, assim como o seu namorado, é imaturo em algumas questões, mas não é idiota, nem retardado mental muito menos criança. eles sabem MUITO BEM o que é certo e o que é errado. eles sabem MUITO BEM que amar exige ESFORÇO. eu não consigo ser carinhoso? meu pai não me ensinou? tudo bem, é um saco, mas é a vida. eu contorno isso, me esforço e APRENDO a ser diferente. porque eu não sou feito de madeira. eu sou um ser humano que tem capacidade de fazer escolhas e, através delas, posso evoluir.
resultado? comecei a exigir respeito, amiga. quando Bob começava com idiotice, eu cortava na hora. muito séria, eu virava pra ele e dizia: "eu não gosto desse tipo de atitude. por favor, gostaria que você não fizesse mais essas coisas. eu sou ou não sou a mulher da sua vida? você me ama? quer casar comigo como você diz, Bob? então me trate de acordo com o cargo que eu ocupo. eu não aceitei você na minha vida pra ficar recebendo patada ou julgamentos injustos. se continuar assim, o nosso casamento não dura um mês. e eu zarpo fora porque antes de te amar, eu amo a mim". não aceitei mais nem uma grosseriazinha, nem uma piada idiota, nem uma desconfiança. NADA.
quer dizer que eu comecei a arrumar briga a toa ou fiquei arrogante? não. mas comecei a fazer ajustes, Gaby. falei pro Bob que, quanto mais a gente faz uma coisa, melhor ficamos naquilo. namorar tem que ser assim também. quanto mais tempo eu passo com você, mais eu te conheço, mais sei do que você gosta e não gosta, então mais feliz eu vou te fazer. foi isso que eu implantei no meu relacionamento. a gente nunca mais brigou, amiga. agora nós conversamos quando algo nos incomoda:
- Silvana, eu não gostei daquilo que você disse ontem.
- Ué, por quê?
- Porque ficou parecendo isso, isso e isso.
- Ai Bob, puxa vida, me desculpe. Nem percebi.
exige humildade, reconhecer que nem sempre a gente acerta, mas é muito saudável.
o que eu quero dizer com isso, mulher, é que talvez você devesse questionar sim os comportamentos do seu ex-namorado (já que vocês continuam próximos). impor respeito. como ele ousa desconfiar de você? poxa, ele pensa que você é o que? vagabunda? que namora e sai traindo com o primeiro que te chama de 'minha linda'?? talvez fosse o caso de você dizer "Fulano, eu te amo. e sei que você me ama, portanto eu exijo respeito assim como eu te respeito. eu não sou mulher da vida, você não me encontrou na esquina, já te provei milhões de vezes o quanto você é importante. está desconfiando ainda por quê? parece que não me conhece, cara. parece que namora comigo há um mês. pô, supera! vamos ser feliz!".
imaturidade não é desculpa. nunca é. como sua amiga que também tem namorado e já passou pelos mesmos tipos de stress, te garanto: nada justifica o desrespeito. NADA. se ele é imaturo e inseguro, ele que trate de se ajudar. e parar de apontar o dedo no seu nariz como se você fosse uma qualquerzinha, que sai dando em cima de todo mundo. eu, no seu lugar, ficaria ofendidíssima, amoguéco. de verdade.
estou te dizendo tudo isso porque acredito que o seu namoro tem jeito. mas o rapaz precisa colaborar. ele tem que resolver dentro dele se ele confia ou não em você. separar o que é "ranso" que ele carrega e o que é realidade. se você deu motivos reais pra ele achar que você trai, aí vou concordar com ele. senão, nada feito. pelo o que você me contou, é tudo pira da cabecinha dele... então ele que faça o favor de superar a paranóia e se transformar em um homem de verdade, que se garante por saber tratar a mulher que ama. crescer também é uma escolha, meu anjo.
mas caso você tenha decidido que não quer mais o rapaz, tudo bem. leve esses conselhinhos pra sua vida, nêga. desconfiança é desrespeito. e desrespeito não se negocia. é não admitir. e ponto.
pensa nisso.
Silvana.