XuCruTinho
sábado, junho 25, 2005
 

A verdadeira técnica de entrevista

deixa eu te contar o que eles não ensinam na faculdade. pauta. pauta é um papel em que supostamente deveriam constar milhares de informações a respeito do assunto sobre o qual você vai escrever na sua matéria, deveria conter um direcionamento, tipo "matéria sobre o dólar; aproveitamos e falamos mal da política cambial brasileira", sugestões de perguntas para o entrevistado, entre outros itens. normalmente não tem nada disso. claro, nem sempre, existem pautas completas, não vamos ser injustos também. mas na maioria das vezes, é aquele negócio estilinho redação de jornal em filmes da sessão da tarde: "prédio caiu! corre pra lá!". você chega no local e descobre tudo por lá mesmo. vai falar com bombeiros, polícia, cidadãos que estavam por ali quando o andaime veio abaixo pra arrancar informações. "como foi? já sabem por que o prédio caiu? que horas foi? alguém ficou ferido? quantos escaparam?".

porém existem dias em que o negócio está parado e não há registro de nenhum prédio caindo. nesses casos, você ouve algo como "vai ter o lançamento de um programa municipal para ajudar os fabricantes de mola de lapiseira. eu não sei o que é direito. vai pra lá e fecha matéria". noooormal.

o que também não te ensinam é que não basta você ter os telefones do entrevistado, o nome dele completo e a entrevista marcada para um determinado horário. o cara tem que querer falar. é ridículo, mas muitas vezes o pessoal da pauta entre em contato com o cara, marca entrevista, fala que o repórter vai ligar (se for de rádio) ou vai até lá (se for de TV) tal hora e tal minuto, o cara aceita falar, mas na hora que o repórter liga... é coice. um atrás do outro. entrevistado azedo é o que há. te trata mal, conversa com você como se você trabalhasse numa clínica de aborto, responde tudo de qualquer jeito e no final, quando você diz "obrigado Seu Fulano, a gravação ficou...", ele te interrompe: "o que?? já tava gravando?? eu não sabia! vamos fazer de novo!". aí nessa vez, ele é incrivelmente simpático, incrivelmente articulado e incrivelmente solícito.

e sempre tem aquele entrevistadinho engraçadinho que adora jogar cantadinha pra repórter. aí em vez de passar dados sobre o assunto, ele fica fazendo piadinhas sobre o seu cabelo ou sobre a sua pele, que é fabulosa, e diz que a sua voz é de veludo e pergunta até que horas você vai trabalhar. e esse negócio de "fácil, é só agir profissionalmente, que o cara entende que você está ali trabalhando" nem sempre funciona. tem joselito que é insistente.

e o cara que quer as perguntas previamente, pra poder estudar o assunto e só depois dar a entrevista? a sua matéria é sobre alfaces roxas que nascem em vitórias-régia e o sujeito é técnico em alfaces roxas, com especialização nas que nascem em vitórias-régia. aí você telefona pro indivíduo e ele diz: "puxa, mas o que você vai me perguntar? vai que eu não sei responder". ¬¬

e tem aquele jaguarinha que nunca deu entrevista na vida. um funcionário de um laboratório de exames encontrou nas coisas de um outro funcionário uma caixa de isopor com órgãos humanos. isso é matéria. você vai entrevistar o tiozinho, mas tem que ensinar como ele deve fazer.
- como o senhor encontrou os õrgãos?
- ah, eu tropecei na caixa.
- tropeçou. e depois?
- aí a caixa caiu.
- caiu...
- é.
- caiu e o que houve em seguida?
- caiu e abriu.
- aí o senhor viu os órgãos?
- não, ainda não. eles estavam num plástico preto.
- então como o senhor descobriu que eram órgãos humanos?
- porque aí eu vi o saco e achei estranho.
- e fez o que?
- ah, abri.
- e daí, o que o senhor fez?

AAAAA! é de deixar maluco.

e como a vida é feita de extremos, existem aqueles seres humanos que falam demais. você precisa de uma palavrinha daquele secretário de saúde sobre a campanha de vacinação contra gripe. e o cara, empolgadíssimo que está dando um entrevista, fala meia-hora. na segunda pergunta, você já solta o famoso "secretário, de forma resumida, como vai funcionar a campanha?". aí no meio da entrevista, ele resolve discorrer sobre a situação precária em que vivem os pacientes dos hospitais da Mongólia, fazendo, claro, um paralelo com a campanha de vacinação da cidade. isso quando o sujeito não é bafento. você começa a entrevista há uns cinqüenta centímetros do cara. quando vê, está com o braço esticado no máximo, com o rosto recolhido e virado para a sua esquerda, pra fugir da fumaça verde que está saindo da boca do ser vivo.

junto com os bafentos, estão os que cospem. você termina a entrevista, o seu gravador está enxarcado e o seu casaco repleto de perdigotos que o homem, de forma descontrolada, lançou em sua direção.

na faculdade, você também ouve falar em enquete. é importante colocar a população pra falar sobre temas de interesse nacional, como salário de deputado, aumento da gasolina, clássicos de futebol. tudo bem. mas que população é essa que fala? porque sinceramente, a que o repórter tem que entrevistar todo dia, nunca quer falar. sempre tem vergonha, dificilmente sabe responder frases que vão além do "porque sim" e do "ah com certeza". é frustrante.

sobre o jornalismo ser imparcial... bom, esse eu não preciso nem comentar, não é.
 
Em 100% das vezes em que perguntam meu nome e eu digo que é Gabriela, ouço um “Gabriela? Cravo e canela?”, seguido de uma risada. E todas estas pessoas realmente acreditam que a piadinha é super original. Se eu te chamar de jaguara é porque gosto de você. Jesus é tudo pra mim.

Nome:
Local: Brazil

Anos se passaram, Gaby é jornalista formada, locutora de rádio, e continua molhando o pão no Nescau. Sou adepta do regime eterno, ainda tenho problemas sérios para comer de palitinho e fico levemente ofendida com a careta que as pessoas fazem quando eu conto que tenho um gato e ele se chama Xaninho. “Xaninho?? Que nome é esse?”. Um dos meus hobbies é gente esquisita. Eu adoro prestar atenção na história delas. Tenho medo do orkut. E de mariposas peludas. Ui. Eu costumo sonhar com pessoas famosas. Já sonhei que o Eminem vendia perfumes, que o Keanu Reeves estudava comigo e pegava um ônibus chamado “Vila Adidas” para voltar pra casa e que o Bon Jovi era meu melhor amigo. Eu gosto muito de torta de limão.

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