Josefina foi arrancada de seu sono logo cedo por um bizão das montanhas chamado Dolores Silva e Silva. Sua chefe. Este ser eqüino e ignorante, que não respeita ninguém, nem a própria mãe (uma energumena que, há anos atrás, resolveu dar a luz a uma menina), ligou para Josefina às sete da matina para vomitar em sua funcionária suas frustrações a respeito da vida e do tal relatório que não existia, que não havia sido feito por Rosalina, que não estava sobre a sua mesa cedo, era o relatório do dia, importantíssimo, por que Josefina não havia ligado para dona Dolores, dizendo que Rosalina não havia redigido a porcaria do documento??, e blá blá blá. Josefina ficou tão atordoada que nem conseguiu mais dormir em seu precioso dia de folga.
Levantou, se arrumou meio perdida e saiu, andando pela rua, sem saber onde estava indo. A sensação de obrigação, de preciso-tomar-providências, de se-mexa-porcaria!!!, latejava em seu cérebro. Quando chegou em frente à mercearia, uma quadra depois de sua casa, parou para refletir e percebeu que não tinha nada que pudesse ser feito. Nem culpa do pepino ela tinha.
Pra não ficar feio, resolveu entrar no mercadinho. Acabou comprando um xampu que nem precisava. Tudo porque aquele búfalo chamado Dolores, aquele touro babão chamado Dolores, ligou para Josefina pela manhã e a tirou da cama com seus cascos sujos de esterco, berrando no telefone como uma vaca parindo.
Que raiva. Que vontade de mandar ir a bosta. Deus! Mas Josefina é cristã. Não pode simplesmente xingar a chefe e cagar na cabeça dela, como tanto sonhava, porque em seguida se arrependeria do seu comportamento.
Decidiu orar para que Deus mandasse Dolores Silva e Silva para longe. Ou, sendo um pouco mais cristã, que a chefe recebesse uma proposta irrecusável de empreso no Mato Grosso do Sul ou Amapá. "Deus, não quero ir trabalhar! Não quero olhar pra cara daquele javali berrante!" (...................................) "Perdoa as lamentações, Senhor. Me dá paciência. Porque se o Senhor me der força, eu quebro a Dona Dolores no meio".