XuCruTinho
sexta-feira, janeiro 31, 2003
 
Conto

Clima melancólico na casa de Gabriela. Acabam de voltar do hospital, onde seu avô está internado. Primeira vez dela. Até aquele dia, ainda não havia tido coragem de ir visitá-lo, de ver seu estado, sua agonia, sua inconsciência triste, sua tremedeira constante, seus olhos selados por lhe faltar saúde para mantê-los abertos.
Gabriela aperta os lábios quando avista a porta do quarto. Sente medo. Medo de não suportar. De cair novamente do sapato que a mantinha forte e voltar a ser uma maricas, uma chorona.
Seu avô estava encolhido na cama, uma coisinha miúda e desprotegida, que a fez querer cair de joelhos e gritar que nada daquilo era justo. A dor, excesso de sofrimento. Em casa, ela ouve um parente dizer a sua mãe no telefone "pelo menos, vocês vão sair mais fortes dessa situação. Nós sempre aprendemos algo com elas". Você ri, com os olhos cheios de lágrrimas... Apanha-se demais pra se aprender muito pouco.
Gabriela vai para seu quarto e tenta não pensar na imagem de seu vovô querido. Ela falhou-lhe no ouvido "Vovô, é a sua netinha. A Gaby. Você está ouvindo?". Ele movia a sobrancelha. E só.
Gabriela ficou pensando nisso, penteando os cabelos de maneira motorizada, sem ânimo.
Do quarto da sua mãe, ela ouve um pastor pregando na televisão. Ele dizia "Não ponham a sua confiança em pessoas importantes, nem confiem em seres humanos, pois eles são mortais e não podem ajudar ninguém. Quando eles morrem, voltam para o pó da terra, e naquele dia todos os seus planos se acabam. Feliz aquele que recebe ajuda do Deus de Jacó, aquele que põe a sua esperança no Senhor, seu Deus".
Segundos depois, Gabriela ouve sua mãe em prantos, soluçando. Vai espiar e a vê ajoelhada na cama, em lágrimas, implorando por conforto pr'Aquele em quem ela deposita suas últimas esperanças.
Gabriela volta para o quarto e fica por quase uma hora olhando para o céu, de sua janela.


 
 

Felipe, o pedaço da música que você comentou é assim *caham*

"Some of them want to use you
Some of them want to get used by you"

aí logo em seguida, tem o pedacinho que eu escrevi.

pronto, esclarecido :).

 
quarta-feira, janeiro 29, 2003
 

"Some of them want to abuse you
Some of them want to be abused"
-- da música Sweet Dreams.

 
terça-feira, janeiro 28, 2003
 

É mais ou menos assim. Uma situação é colocada para você e a reação gritada e nervosa que é extraída de seu interior lhe soa normal. Porém mais tarde, em uma conversa agradável e reveladora com a sua mãe na cozinha enquanto ela refoga os quiabos, você percebe que aqueles berros não eram para a situação que lhe foi mostrada. Na verdade, você está carente porque a sua família está virada do avesso e isso requer que a sua mãe seja tirada de você o tempo todo.
Quando a sua mãe te alertou sobre a sua agressividade ao falar do seu irmão e do algo estúpido que ele tinha feito, a maneira com que você dizia "ele sempre foi protegido em casa, sempre teve preferências e eu nunca!", na verdade era a sua carência se manifestando. Você queria a sua mãe mais em casa, você queria mais carinho familiar, você queria parar de sentir como se morasse sozinha.
Mais um pouco de conversa e o seu peito já está apertado, o choro latejando e fazendo sua garganta arder, enquanto a sua mãe lhe diz que sabe da ausência dela e que a sua manifestação agressiva é um pedido de socorro, um grito nervoso reclamando o abandono repentino.
Mas o seu avô está no hospital, você não pode cobrar da sua mãe que passe mais tempo com você, que volte para casa eventualmente para fazer um almocinho gostoso e mandar aquela sensação de que você mora sozinho, embora. Você não pode pedir uma coisa dessas porque você é um adulto, você já sabe fazer os seus próprios almocinhos, já consegue ficar distante da mamãe sem chorar de saudades.
Você sabe disso.
Então ela diz "desculpe, eu não estou fazendo por mal, querida" e você diz "não, imagine, mãe, eu sei disso". Só que ela não pára de se desculpar e dizer que te ama, que logo isso vai acabar e a sua garganta volta a apertar e o seu peito a doer com o choro querendo soltar-se. De repente você vira uma criança, com saudade da mãe, querendo atenção, pedindo para que ela volte para casa cuidar de você.
É inacreditável o que você é capaz de armazenar dentro de você. E transformar tudo isso em monstros que podem te assombrar pro resto da vida.
Que merda é não saber colocar as coisas pra fora. Que merda ter que segurar o choro e ficar horas com o peito doendo porque você não consegue chorar com alguém assistindo, não consegue mostrar o que está sentindo com naturalidade, sem sentir uma sensação nítida de estupro só de derramar umas lágrimas e mostrar qualquer tipo de emoção na frente de alguém.

Quando o assunto surgiu e você acabou falando para o seu irmão que não gostava de determinada atitude dele, a explicação saiu afobada, entre gritos desafinados, somado a uma falta de ar e tremedeira pelo corpo. Você se sentiu uma louca. Mas a verdade é que você segurou aquilo por tanto tempo, tantas semanas engolindo aquela atitude do seu irmão, que quando você resolveu falar pra ele, o discurso sóbrio e maduro que você tinha preparado foi pras cucuias. E você explicou e mostrou o seu lado como se só tivesse três segundos pra dizer as mil coisas em mente. Saiu tudo desafinado e torto e atropelado e você comeu palavras e cortou a frase na metade pra dar lugar a seguinte, que também foi cortada, aumentou a voz ansiosa, desesperada, correndo pra tirar de uma vez aquilo tudo de dentro de você.
Você odeia ser assim. Odeia ser como o seu pai. Odeia ser o que você cobrou dele a vida inteira para que mudasse. Guarda os sentimentos o tempo todo, fica com o peito doendo, engole e mantém tudo em seu armazém inconsciente. Lá, as situações que te machucam ficam curtindo que nem pepino em conserva. E você acaba transformando tudo em hábitos estranhos. Como o caso daquele seu amigo que levou uma surra da mãe na infância por ele ter colocado a mão em um monte de cocô de cachorro. Hoje ele lava a mão obsessivamente, mas não percebe a ligação dos fatos.

Você suspira desanimado, mas não desiste. Faz mil planos de mudança pro futuro e acredita na sua criatividade para se fazer uma pessoa única, sem imitar as limitações de seu pai ou copiar as neuroses de sua mãe.
Mas não deixa de sentir um pouco de medo ao relembrar que não conhecia tantas coisas a seu próprio respeito. E se pergunta o que mais poderia estar guardando.

 
Em 100% das vezes em que perguntam meu nome e eu digo que é Gabriela, ouço um “Gabriela? Cravo e canela?”, seguido de uma risada. E todas estas pessoas realmente acreditam que a piadinha é super original. Se eu te chamar de jaguara é porque gosto de você. Jesus é tudo pra mim.

Nome:
Local: Brazil

Anos se passaram, Gaby é jornalista formada, locutora de rádio, e continua molhando o pão no Nescau. Sou adepta do regime eterno, ainda tenho problemas sérios para comer de palitinho e fico levemente ofendida com a careta que as pessoas fazem quando eu conto que tenho um gato e ele se chama Xaninho. “Xaninho?? Que nome é esse?”. Um dos meus hobbies é gente esquisita. Eu adoro prestar atenção na história delas. Tenho medo do orkut. E de mariposas peludas. Ui. Eu costumo sonhar com pessoas famosas. Já sonhei que o Eminem vendia perfumes, que o Keanu Reeves estudava comigo e pegava um ônibus chamado “Vila Adidas” para voltar pra casa e que o Bon Jovi era meu melhor amigo. Eu gosto muito de torta de limão.

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