Sabe, não é o caso de exigir de ninguém um comportamento de santinho. Tudo bem, existem pessoas que acham que caráter não conta. O que você vai fazer? Colocar um revólver na cabeça e enfiar goela abaixo valores, orientação moral e postura? Lógico que não. Até porque, não é o caso de convencer ninguém a carregar o que já deveria ter vindo de casa, da criação, da escola. Se não teve isso enquanto estava se tornando uma pessoa, esquece. Daí só Deus conserta.
Mas sabe, o mínimo. Pelo amor de Deus, o mínimo de caráter. A pessoa tem que acreditar em alguma coisa! Não pode sair por aí tratando gente como se fosse sujeira de ralo. Sair beijando e comendo mulher como se fosse o prato do dia! Não pode! Será que nunca teve vontade de fazer certo, de fazer direito, de fazer bem feito? Nunca, nem uma vez na vida, meu pai?
Também não é caso de acomodar ninguém no papel de vítima.
A minha amiga estava falando pra mim que só fazem com a gente o que a gente deixa. É verdade. Mas poxa, independente do outro que está deixando, o mínimo! O mínimo de caráter, de seleção, de saúde já digo! Você colocar a boca na latrina e no copo de cristal tem que ter uma diferença! Quem não sabe diferenciar isso, quem coloca a boca em qualquer pocilga e não vê nada de estranho nisso, tem problemas para colocar valor nas coisas. E pior: não atribui valor algum a si mesmo.
Agora o que você vai fazer? Colocar o tal revólver na cabeça e fazer entender, na marra? Não, né. Até porque, você tem que cuidar da sua vida, dos
seus valores, do
seu caráter, da
sua saúde. E cuidar pra ficar longe desse tipo de pessoa. O duro é quando você gosta dessa gente... Nesses casos, dá pra dizer que o doente é você. Que está tirando a boca do cristal e colocando diretamente no esgotão. (...) Burra, estúpida, cretina!
Existem aquelas pautas frouxas, ou que saíram diretamente da cabeça de algum infeliz que manda um release para a redação por email e você tem que fazer por falta de assunto no dia; existem as pautas que eu até chamaria de "putas" porque são assuntos que muitas vezes não são notícia, mas você precisa fazer por interesses de terceiros. E existem aquelas pautas factuais, em que toda a imprensa comparece. Essas são as melhores.
Hoje teve mais uma dessa. Deixando pra lá o blá blá blá jornalístico, eu quero falar do fotógrafo. O cara que antes era o meu colírio e agora é o meu incômodo. Pesquisas recentes mostraram que o tal do Zulu não passa de um gostosão sem cerebelo, que sai proferindo frases do tipo "eu só tenho 10% de gordura no corpo" por aí. Por causa disso, a minha ética gritante de mulher e os meus princípios fundamentados na fé cristã não me permitem achar interessante um homem tão preso a valores fúteis e distorcidos. Eu não posso me dar ao luxo de demonstrar que o acho bonito porque esse tipo de postura que ele tem (algo meio "cara, eu sou muito foda e isso me faz melhor que você"), não deve ser de nenhuma forma incentivada. Por mais que os meus olhos me traiam muitas vezes, eu preciso tornar esse meu pseudo-interesse (ok, vamos supor que ele existe, ainda que em uma pequena escala) em algo 100% racional, que deve ser manipulado com a minha mente e não com os meus sentimentos e/ou instintos. Ainda que, em diversos momentos (em diversos
mesmo) isso pareça impossível, impensável, impraticável. Como naquele dia insuportável de quente, na pauta do roubo de uma delegacia grande da cidade, em que de tanto correr para fotografar os ladrões presos, o fotógrafo e seu corpo com apenas 10% de gordura (portanto 90% sem ela), apresentou-se à sociedade civil e à comunidade feminina presente, completamente suado, com a sua pele morena pedindo um carinho (claro, para melhor exercício de suas funções de fotógrafo), e seu cabelo caindo em seu rosto harmonioso, teimando em incomodar seus olhos escuros.
Eu não quero que este texto seja interpretado como uma espécie de conto erótico pobre e vagabundo porque não é o caso. O fato de o fotógrafo ter me tirado o fôlego neste lindo dia quente, não tira a credibilidade e a seriedade desta análise sociológica (sociológica?) sobre a realdiade cruel em que vivemos quando falamos de padrões de beleza e caráter. Os dois têm dificuldades de caminharem juntos.
Isso é fortemente notado quando o fotógrado insiste em relatar por aí casos em que ele não conseguiu caminhar tranqüilamente pelas praias do litoral paranaense devido ao assédio moral de várias mulheres; tudo o que ele queria era desfilar aquela barriga com apenas 10% de gordura (portanto 90% sem ela) pela paisagem de veraneio. Disse que as moças rasgaram sua camiseta. É muita prepotência... A humildade está aí para ser aderida. Até por quem nunca ouviu falar de carboidratos. Por isso é importantíssimo ressaltar que este é homem para se olhar, não para se ter. Porque a novidade de se estar namorando o sujeito do catálogo da Levis passa. Então resta só o que habita em seu cérebro. E no primeiro diálogo mais profundo, você logo percebe aonde foi parar aqueles 90% de gordura. Eles não desapareceram. Apenas se deslocaram. E se assentaram no local que deveria estar sendo ocupado pelas idéias.