Lembram do Bob, aquele meu amigo que acha que toda mulher é vagabunda? Então, saí com ele e mais um amigo nosso (vamos chamá-lo de Adilson) tomar um "Duvalinho". Na verdade, o Do Valle quem ia tomar era eu, eles iam carcar na cerveja (essas coisas de gente cozida), mas tudo bem, seria divertido de qualquer forma. Nós sempre combinávamos de sair, mas por algum motivo bizarro, nunca dava certo. Já estava parecendo que as nossas saídas (ou as nossas tentativas de fazer com que elas se materializassem) estavam encantadas. Mas enfim, saímos. Choveu, o pneu do carro do Bob furou, mas o negócio foi. Saímos para conversar, falar de coisas sem lógica, dar risada de coisa imbecil... Eu no suquinho de morango, eles na Kaiser. E como não podia deixar de ser, entramos no tema "Mulheres: vagabundas ou tudo não passa de um ponto de vista distorcido?". E lá veio o Bob com as histórias macabras... "Comi fulana no banheiro, carquei ciclana e dividi com o meu irmão, arrastei para o carro e mandei ver...". E eu só ouvindo, meio assustada meio achando graça meio curiosa. Parecia documentário do GNT. Aí o Adilson engrenou e contou umas dele também. E entre carcadas e comidas e comentários do tipo "mas as mulheres estão vagabundas mesmo", eu desviei o assunto para os relacionamentos. Quer dizer, pelo amor de Deus, será que essa gente sente alguma coisa? Tá, o Bob e o Adilson são caras de façanhas sexuais, mas caracas, eles já se apaixonaram por uma mulher não porque ela estava usando uma micro-saia, mas sim porque não conseguia parar de rir na companhia dela? Ou porque a mulher tinha idéias legais e um papo interessante, o que a tornava incrivelmente linda? Será que alguma vez as coisas para eles já foram além do sexo selvagem, performatizado em cubículos de W.C. de baladas?
Papo vem, papo vai, entramos no assunto ciúmes. O Adilson comentou um pouquinho, contou uns "causos", e eu retomei dizendo que não era ciumenta. "Se bem que, se eu namorasse o Bob e eu visse uma ligação de mulher no celular dele, provavelmente eu ficaria cabreira". O Bob prontamente se manifestou, dizendo que não entendia porque eu achava aquilo. "Quando eu namoro, eu namoro, ué. Porra, se eu estou com uma mulher, é porque eu quero. Ninguém me obrigou a estar com ela, não tem motivo pra trair".
Tomei mais um suquinho, dessa vez de laranja, e levantamos para ir embora. No caminho até o carro, passou um cara vendendo algodão-doce mais ao longe e eu comentei, só por comentar, "olha! Algodão-doce! Nossa, quanto tempo que...". O Bob nem perguntou direito se eu queria, já chamou o cara e disse as seguintes palavras quando o tiozinho se aproximou: "Beleza, cara? Eu queria comprar um algodã-doce para o meu amor?". O joselito do algodão-doce sorriu e disse: "Vai comprar para a namorada, né?". O Bob confirmou e me deu, assim, de presente. Puramente para me agradar. Eu achei aquilo lindo.
Tenho que admitir. Duvidei um pouco de Bob, é verdade, mas ele às vezes me surpreende. Com o tempo (e umas entornadas de copo depois), ele estava mostrando que não é só um Gorila Cowboy Catador de Mulheres da Vida, como às vezes parece. Há esperança. Vai que um dia ele recebe um chamado, resolve largar a profissão de cafetão e começa a gostar só de mulher de verdade?
Aí nessa semana ele já deu uns coices, xingou mais umas de vagabunda... Fazer o quê. Nem todo dia é dia de algodão-doce.

Mas sabe, é aquele negócio que eu sempre falo pra ele: "Você é assim, meio tosquinho, meio rústico, mas eu gosto de você". Ele tem uma coisa de menino querido, que às vezes fica diiiiias sem aparecer, mas eu sei (e enxergo) que está lá. E eu não falo com aquele arzinho de suspiro, do tipo vovó com esperanças, não não, o Bob é querido. Todo dia quase ele me dá carona, desvia lá dos caminhos dele, só pra me deixar no ponto de ônibus. E ele me faz rir. A gente conversa sobre várias coisas e, mesmo ele achando (e procurando por) mulher vagabunda, bom, ele pelo menos me contou sobre isso. E me comprou um algodão-doce. Tá indo bem, Bob. Logo logo você já vai estar até sabendo como lidar com um ser humano do sexo feminino. Mas um de verdade, não as máquinas de sexo dos banheiros da vida.
  ¶ 9:44 PM 0 Comentários