soneto inspirado totalmente na minha rotina matinal diária.
Soneto 0.1 (do Terminal Campina do Siqueira)
Seis e meia da manhã no ponto
1,70 roubam da carteira
Muvuca e um destino em comum:
Terminal Campina do Siqueira
Curitiba inteira aguardando
E o ônibus já chega lotado
Todos se amontoando em pé
Invejando quem está sentado
Quem fica em pé que se ferra
Segurando-se meio de lado
Até que olha pra cima
E dá de cara com um sovaco bichado
De repente, do seu outro lado
Um ser que parecia de Vênus
Com cheiro de azedo e cabelo sebento
É, o sovaco era o de menos...
Naquele momento o que você mais deseja
É ser uma princesa em uma carruagem
Volta à realidade e olha no relógio
Faltam vinte minutos de viagem
E como se nada pudesse ficar pior
Acontece o que você mais tinha medo
A nuvem verde no ar não mentia:
Alguém tinha soltado um peido
Você olha ao redor furiosa
Com um só objetivo
Poderia ter sido o vileiro
Poderia ter sido o executivo
Desiste de descobrir o autor
E tenta se concentrar no sovaco
Pelo menos debaixo dele
O cheiro era mais fraco
Heroicamente você sobrevive
Agüentou a viagem inteira!
Chegou ao seu destino
O Campina do Siqueira
*APLAUSOS*
Glossário
Vileiro = ser vivente nas ruas de Curitiba, que se veste mal e se acha melhor que todo mundo
Campina do Siqueira = terminal onde eu pego mais um ônibus pra eu ir pra faculdade
chutei o balde!
não vou mais sair com o meu pai!
agora é oficial, chutei o balde mesmo! vá cagar! cansei!
desde que eu tenho 14 anos é assim!
desde que eu tenho 14 anos eu mando cartinhas dizendo que sentimos falta dele.
que a gente tem que ser mais íntimo, manter diálogos, e não só conversar quando dá briga por causa da pensão.
já chorei, já vi ele chorar, já me descabelei pra fazê-lo entender.
já entendi muito também.
"ele teve uma criação difícil, ele não teve pai, Gaby, tenta entender".
bom, o espaço cerebral de compreensão da Gaby aqui a-ca-bou! zéfini! lotou!
não tem mais espaço nem pra um "Me Desculpe".
dei um bicudão no balde! se bobear, ainda vou lá e jogo o dito na cabeça dele!
encheu o saco tentar ensinar pra ele como ser pai!
como participar da vida dos filhos!
provar pra ele que ele faz falta SIM nas nossas vidas.
"Gabriela, você ainda não tem uma vida. você não entende"
ah, eu não tenho uma vida?
pois chega de deixar de sair com as amigas no final de semana pra gente ficar junto!
chega de não ir em churrascos pra ir na casa dele.
agora ele vai ver quem não tem uma vida!
estava deixando de lado só pra ficar um pouco mais com ele!
pois agora não tem mais!
dei espaço, fui legalzona, compreendi.
não quis?
não deu valor?
ótimo!
não sabe o que tá perdendo.
encheu!
tchau!
vá cheirar um dedão fidido!
chupar um cadarço!
vá coçar micose!
vá peidar em copo d'água pra ver se faz bolhinha!
BLÉÉÉÉÉ!!!