O Califa é um apresentador cheio de manha, cheio de gíria, meio velhão, aqui da rádio. Ele sempre dá umas cantadas pornográficas, pega de um jeito meio escrotão, mas é gente boa pra caramba. Cheio de história, cheio de caso, puta currículo.
Hoje ele estava falando qualquer coisa indecente sobre a minha roupa, eu dei risada e passou. Aí ele:
- Simpatia, essas coisas a gente só fala pra quem é bacana. Porque tem muita mulher por aí que pode tirar a roupa que ninguém olha.
- Você acha isso?
- Claro.

Fiquei pensando depois... Achei legal.
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  Todo dia de manhã, no horário do jornal aqui da rádio, eu fico atendendo os ouvintes que ligam para dar opiniões sobre os principais assuntos noticiados no dia. Os telefones ficam no estúdio da rádio AM, apesar de o jornal ser da FM. Aí nessa semana, teve sorteio. E quando tem sorteio, os telefones tocam INCESSANTEMENTE, e só tem eu pra atender. Sério mesmo, eu devo falar uns dezoito alo's por segundo.
E nesse horário, o pessoal volta e meia quer usar o telefone. Eu não me importo, sabe, apesar de saber que não é certo da parte deles. Só que nesse dia de sorteio, não tinha como, eu precisava de todos os telefones livres. Aí chegou o Padilha, que é um cara que me adorava, do tipo Gabyzinha pra cá e Gabyzinha pra lá, e pegou o telefone pra usar. Eu lá, toda esbaforida, atendendo os telefones, educamente, com toda a minha simpatia e querideza, disse: "Padilha, tem como você usar o telefone depois? É que está tendo sorteio e eu preciso deles livres". Desde então, ele nunca mais falou comigo. Teve um chilique, dizendo que se era assim, eu tinha que pedir pra todo mundo que usa o telefone, não usar. Aí eu: "Padilha, você ficou ofendido? Porque não era esse o objetivo". "Não, eu só acho que você tinha que fazer o mesmo pedido pra todo mundo que entra aqui".
Ai, ai...
Agora ele fica todo chiliquento quando eu tô perto. Pára de falar, não me cumprimenta, faz cara feia... Gente, o cara tem mais de 50 anos. Eu acho tão engraçado, porque nem eu, que tenho 21, tempo de vida relativamente curto, pouca experiência, atitudes às vezes imaturas, não faço isso, de virar a cara e dar uma de ofendida.
Coisas do trabalho... E de gente estranha.
Aliás, eu ando percebendo que tem muita gente aqui que não vai com a minha lata. Eu não sei, talvez eu fale de algum jeito esquisito... Será que eu sou uma daquelas pessoas que tem cara de entojo? Ou uma daquelas estagiárias que espalha aquele olhar de superioridade pra todo mundo? Eu não faço isso. Pelo menos eu acho que não. Porque tem gente que gosta de mim. Se eu fosse uma metida, grossa, ignorante, as pessoas que gostam de mim não gostariam tanto de mim.
Dá vontade de chegar pro Padilha e dizer "Escuta, quantos anos você tem? Doze?". Qualquer hora dessa eu acho que eu falo. Falo mesmo! Ele vai ver só!
(....)
Falo nada. Duvido que eu falo. Du-vi-do.
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