E a padaria foi pra chónDia normal de pauta jornalística. Assinatura de convênio do governo do estado com municípios da região metropolitana. Lá estava a repórter Gabriela, com seu gravadorzinho numa das mãos, acompanhado do bloquinho e da caneta e, claro, dos cabelos desgranhados, já que passava das onze e meia da manhã. Chega esse horário, o cabelo desgranha mesmo porque você passou a manhã correndo com as suas matérias, pautas e entrevistados, pensando e elaborando, escrevendo, puxando ganchos nas reportagens, até que = fadiga. E sinceramente, não há lápis de olho nem cachos nem expressão de saúde que resista. Porque jornalista trabalha só um período do dia, mas é como se a manhã e a tarde tivessem, cada uma, 24 horas.
A pauta do governo era a última do meu dia. Eu estava podre. Minhas pernas pareciam ser feitas de patê, minha capacidade de me manter em pé era a mesma de um fio dental e a minha disposição remetia a de um desdentado tentando comer palmito. Deprimente. Em alguns momentos até tive sucesso, nas perguntas que fiz a alguns prefeitos e tal, mas nada realmente digno de se ressaltar. Eu estava entregando os pontos.
Ao contrário do que o meu pessimismo fazia eu pensar, a cerimônia finalmente terminou. No momento em que estava saindo, acompanhada de duas colegas de trabalho, um fotógrafo zé-graça do palácio começou a se alugar, tirando foto de nós três caminhando pelos largos corredores de piso estilo tabuleiro de xadrez. Eu fiz careta, coloquei a mão na boca, pedi pra não tirar, mas o cara estava realmente afim de azucrinar. Tá, o negócio foi tocar a vida e aceitar que, naquela câmera, estavam registrados para a posteridade vários dos meus piores momentos de vida e não havia nada que eu pudesse fazer.
Me despedi e segui em frente, em direção a escadaria do palácio que dava para a saída. Uma escadaria enorme de mármore branco, coisa de filme. Eu adorava olhar para aquela escada. Parecia que ela tinha luz própria. Comecei a descer, meio sonolenta, até que minhas pernas de patê me traíram e eu caí de bunda. Como se não bastasse a minha padaria ir bruscamente de encontro com o mármore, eu desci uns dois ou três degraus com o meu traseiro. De repente, ouvi aqueles gritos. Uma outra colega minha, repórter de TV, veio aos berros lá de cima, "Gaby-tá-tudo-bem-Gaby-tá-tudo-bem???". Quando a queda finalmente acabou, eu fiquei lá sentada, olhando pros outros degraus pra onde eu felizmente não rolei, pensando "puxa, acho que hoje não é mesmo o meu dia". Enquanto isso, a minha colega berrava do meu lado, "Gaby-Gaby-fala-comigo-Gaby-gente-me-ajuda-aqui-ela-não-tá-bem!!!". Eu ri do jeito dela, falei que tava ótima, que, querendo ou não, a minha bunda tinha amaciado a queda e que a gente podia continuar caminhando.
Hoje eu não estou conseguindo sentar direito, mas, como diz o meu amigo
Ricardo, vai que vai. A gente administra. Afinal, ninguém precisa sentar o teeeeempo todo. Ai ai, que dia estranho.
Adendo: dizem que dia dos namorados é data comercial. Mas quem não queria dividir um saquinho de amendoim no Parque Barigüi no 12 de junho? Eu? Eu não. Eu só estou aqui escrevendo esse texto.