Gaby Brandalise, famosa repórter do mundo dos artistas, é conhecida por elaborar perguntas de conteúdo complexo e profundo, chegando a fazer uso de parábolas para contextualizar o assunto sobre o qual levantará questões. É uma profissional de credibilidade, prestígio e, como todo jornalista apaixonado, desprovida de grandes quantias de dinheiro.

Mas hoje ela foi enviada a Los Angeles com o intuito de entrevistar o ator Keanu Reeves, que continua em algumas salas de cinema brasileiras com o seu mais novo filme Matrix Reloaded. O filme, claro, não é dele, como se ele fosse o dono, algo como "Propriedade do Senhor Reeves", mas é maneira de dizer já que o indivíduo atua como personagem principal.

O ator aceitou recebê-la em um hotel que, naquele momento, lhe servia de lar. A missão de Gaby Brandalise é descobrir se o homem simpatiza ou não com o ato de manter aquele conjunto de fenômenos sexuais com seres humanos XY. Em outras palavras, a principal questão que ronda esta investigação é: Keanu Reeves é ou não é gay?

Não será fácil. Gaby Brandalise precisa se concentrar para fazer as perguntas certas. Em um papel, esboçou algumas possibilidades de pegadinhas. Ela sabia que Keanu Reeves estaria preparado para fugir deste assunto, porém ela possuía a habilidade de arrancar dados importantíssimos com finura.

Gaby Brandalise chega ao local combinado, no centro de Los Angeles. A equipe do hotel a recebe e a encaminha ao apartamento em que Keanu Reeves a esperava. Gaby Brandalise estava tensa profissionalmente, mas não se sentia incapaz. Afinal, já havia entrevistado personalidades renomadas como Agnaldo Rayol, Supla, Zilo e Zalo, Adriana e A Rapaziada, Milionário e José Rico... Além de ter ajudado Calby Peixoto inúmeras vezes com os nomes de seus discos.

- Excuse me, Mister Reeves.
- Sure, come in.

"Educado". A primeira anotação. "Muito educado. Gays são educados. Ele é gay. Mmmm... Mas os gays podem ser mal-educados também. Ok, fator irrelevante".

- How have you been, Mister Reeves?
- Fine, fine. You?
- Honored with the opportunity. I know you're not exactly crazy about giving interviews.

Eles apenas sorriu, não disse nada. Gaby Brandalise finalizou, tentando ser simpática:

- I'll try to turn this into a great experience for you.

Desta vez, ele riu de fazer barulhinho. Um leve "Haha...". Só não se sabe dizer exatamente se era um "Haha, você é simpática" ou "Haha, claro, claro... Talvez numa próxima vida".

- Podemos começar? – perguntou ela.
- Manda ver.

Apanhou seu caderninho e torceu.
Começaria falando de Matrix Reloaded. O único dado concreto que possuía sobre a vida particular do elenco era que o ator que interpretou o Agente Smith é homossexual.

- Como foi trabalhar com Hugo Weaving, em Matrix?
- Foi legal.
- Vocês ficaram amigos na vida real?
- Ahm... Não, eu acho.

"Ahm, Não, eu acho" não era exatamente uma resposta que possibilitava alguma anotação importante.

- Assistindo o making of do primeiro filme da trilogia, eu reparei que você estava bastante à vontade nas gravações. Para você é possível se divertir durante a atuação profissional, quer dizer, com uma carga tão pesada de trabalho como você teve e...
- Os diretores eram legais. Você se sente livre pra fazer brincadeiras.

Cortada categórica.
Ok, hora de mudar de assunto. Hobbys. Isso, hobbys. Gaby Brandalise pensou que hobbys dizem muito sobre uma pessoa.

- O que você gosta de fazer, Mister Reeves?
- Tocar baixo...
- Claro, a sua banda... Dogstar é o nome.
- Sim.

Silêncio.

- Além de tocar, do que mais você gosta?
- Hóquei no gelo e motos.
- Por acaso esses hobbys são responsáveis pela sua cicatriz?
- Sim.
- E como foi?
- Eu já me acidentei muito de moto. Em um desses acidentes, rompi o baço e ganhei uma cicatriz no abdômen.
- Doeu?
- Doeu.
- Em 1999, uma namorada sua perdeu um bebê e um ano mais tarde, veio a falecer em um acidente de carro. Você se...
- Eu não falo sobre esse assunto.

Ok... ok... Próximo tópico.

- Qual o filme que mais gostou fazer?
- Não tenho um preferido.
- Você trabalhou com nomes como Francis Ford Coppola, Bernardo Bertolucci, Gus Van Sant... Como é pra você...
- É legal.
- Na sua atuação no teatro canadense, mais especificamente como Hamlet, você foi negativamente criticado pelo seu trabalho. Como isso te afeta?
- Não afeta.
- Certo... Mais tarde, o respeitado crítico inglês Roger Lewis escreveu muito bem sobre você nesta peça. O que achou?
- Como disse, não afeta.

Gaby Brandalise mexe em seus esboços, impaciente.

- Você é conhecido por ser um caso raro em que a beleza é uma qualidade dramática, como nos filmes O Pequeno Buda e até mesmo Matrix. Você não acha que isto tira um pouco a credibilidade do seu trabalho?
- Ah... Sei lá.
- Você se preocupa com o corpo?
- Não muito... Só quando tenho.

Silêncio.

- Mister Reeves, o senhor é gay?
- Não há nada de errado em ser gay. Portanto, uma simples negação já seria um julgamento.
- Senhor Reeves, eu desisto. Não há condições de entrevistar o senhor. Bem que me avisaram mesmo que o senhor é craque em "hãs" e "hums" que só melhoram nos seus "sei lá". Eu estava preparadíssima, com perguntas incríveis pra fazer, mas o senhor não ajuda. Assim a coisa não procede.

Ele riu.

- Isso é o máximo que você vai conseguir arrancar de mim. Desculpe.
- Ai, ai, que desânimo... Esta poderia ter sido uma grande matéria.

Pausa.

- Foi uma experiência legal – ele disse, sorrindo.
- O senhor é surfista?
- Às vezes. Por quê?
- Nada. O jeito de falar. O senhor sabia que o senhor é conhecido por alguns figurões de Hollywood como cabeça de vento?
- Ahan.
- E não está nenhum pouco preocupado com isso.
- Nem. Você também não deveria estar.
- Eu sou jornalista. Meu sobrenome é preocupação.
- Sinto por você. - Ele pareceu realmente sentido pela repórter.

Pausa. Gaby Brandalise olha ao redor e observa com atenção o quarto luxuoso.

- Bom, eu vou indo. Boa sorte com a sua banda Dogstar e com os hobbys e com os filmes.
- Boa sorte com as preocupações.
- Obrigada, eu vou precisar. Ainda mais agora que o meu chefe pagou uma fortuna me mandando pra cá pra entrevistar o senhor e o senhor não me deu uma informaçãozinha sequer.

Ele riu.

- Até mais, Gaby Brandalise.
- Até mais, Mister Reeves. Acho que vou tomar um café aqui no seu hotel, tem um bar lindo lá embaixo.
- Legal, eu vou com você.

Pegou um casaco e, quando fechava a porta, perguntou:

- O que você achou da continuação de Matrix?
- Olha, Mister Reeves, pra ser bem sincera... Eu achei meio fraquinha. Não pelo senhor, é claro, porque a sua atuação foi ótima, mas não sei... Meio artificialzão, se é que isto lhe esclarece alguma coisa... E fora que o elenco todo deu uma embagulhada do primeiro filme pra esse. Não o senhor, claro, o senhor estava ótimo, mas a moça está meio acabada, e o Morfeu, deu uma engordada, ficou meio redondo...

Ele riu de novo.
Estranho, mas uma boa pessoa. Gaby Brandalise gostou de conversar com o homem, mas voltou pra casa sem matéria. Ficou com dó dos atores de Hollywood. Pensou como deve ser triste responder (ou não, como era o caso do Senhor Reeves) as mesmas perguntas toda vez. Decidiu que escreveria sobre as não-respostas geniais do ator. Mas não contaria sobre o café que tomou com ele. Pra não parecer antiético.
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  testando acentos, testando acentos...
á à ê é ô ó ú ííí iúúúú tchãnãnããããã...

AAÊÊÊÊÊ!! DEU CERTO! Manu, eu amo você, guria! você salvou a dignidade do meu blog! aaêêê! *dando pulinhos*
E VIVA OS ACENTOS! =D

  ¶ 6:12 PM 0 Comentários