Relacionamentos patológicosNamorados que perdem horas discutindo pontos cretinos- Que coisa estúpida é essa que você está falando?
- Estúpida não, verdadeira.
- Guilherme, é impressão minha ou você está insinuando que eu estava dando em cima dele?
- Dando em cima? Você praticamente agarrou o cara à força!
- Mas era só o que me faltava... - suspirou indignada.
- Ah é? É tão absurdo assim o que eu estou dizendo? Então beleza. Já que é assim, tenho certeza de que você não vai se importar se eu for passar o Ano Novo com a família da Sabrina, nos Estados Unidos.
- Guilherme, olha a comparação imbecil que você fez. É diferente! A Sabrina é a sua ex-namorada! E ela te convidou para passar o Ano Novo com ela porque a tapada ainda é apaixonada por você.
- Ah, então é assim que você denomina as pessoas que gostam de mim? Claro, desculpe se a minha personalidade não chega a altura da sua.
- Eu por acaso disse isso?
- Não, mas deu a entender.
- Você é paranóico.
- Eu? - Guilherme perguntou assustado, apontando para si mesmo.
- É! Você tem ciúmes de cada ser vivo que se aproxima de mim.
- Olha só quem fala! Paola, você não deixa nem eu atender aos telefonemas da Sabrina quando ela liga no meu celular.
- Você sabe muito bem o que a Sabrina quer com você. Ela te quer de volta. E enquanto você for meu namorado, você não vai ficar debatendo este tipo de assunto com ela. Mas não mesmo!
- Ótimo! Pois então você também está proibida de trocar sequer um suspiro com aquele Luka otário!
- Guilherme, o Luka é meu amigo! Eu gostei dele um dia, EU, e não ao contrário. Não faz sentido você me proibir de falar com ele, se você sabe que ele só me vê como uma amiga e que eu não sinto mais nada por ele desde que eu te conheci.
- Não sente? E como eu vou confiar em você? Você pode gostar dele e não estar querendo me contar.
- Vai se foder, Guilherme!
- Você está brava assim porque sabe que eu estou certo - o Guilherme disse, sentando-se novamente.
- Eu estou puta por você ficar duvidando da sua namorada dessa maneira. Se eu falei que eu não dei em cima do Luka, você tinha que acreditar em mim! E não ficar me chamando de vagabunda por tabela!
- Bom, então você deveria usar essa mesma filosofia comigo. Toda vez que eu estou conversando com as minhas amigas, você tem chiliques. Lembra do escândalo que você fez aquele dia com a Michele?
- O que você queria que eu fizesse? Aquelas suas amigas sim são umas galinhas. Elas se esfregam em você, ficam se oferecendo, só faltam colocar uma plaquinha de "Sirva-se" na testa.
- Isso não é verdade!
- Claro que é, você que finge que não percebe para continuar com a fama de "gostosinho" da sua classe.
- Não fala merda, Paola.
- E também, escândalo por escândalo, nós estamos quites. O que é que foi aquela sua demonstração de masculinidade na festa do Marcos, hein? Você avançou no coitado do Raphael porque, segundo o seu ponto de vista neurótico, ele estava tentando ficar comigo.
- Mas ele estava! Eu vi!
- Guilherme, ele estava a mais de seis metros de mim!
- Ele estava te secando, tá legal?
- E por causa disso, você tinha que bater no coitado do garoto?
- Tinha sim. Não era a primeira vez que ele estava dando em cima de você.
- Está aí a sutil diferença que você simplesmente não consegue entender. Dar em cima é uma coisa, secar é outra. E eu nem percebi nada, estava dançando com você.
- Ótimo que você não percebeu. Não era para perceber mesmo.
- Meu Deus, você está ficando louco... Eu não queria perceber isso antes, mas você está mesmo longe de ser um namorado normal.
- Que merda de louco, o quê! O fato de eu enxergar coisas não me torna louco. É você quem tem que parar com essa sua mania de dar em cima dos seus amigos.
- Eu não dou em cima de ninguém, porra! Pára de falar isso!
- Ah, está vendo?! Ficou bravinha desse jeito porque eu estou certo!
- Não estou brava por causa disso! O que me deixa puta da cara é o meu namorado ficar me questionando como se eu fosse alguma mentirosa!
- Eu te questiono porque você me dá motivos.
- Ah, eu te dou motivos? - com um ar de deboche. - É você que os inventa! Você vê coisas onde não existem!
- Como que eu iria ver coisas onde não existem?
- E eu sei lá! Você vive tirando suspeitas do além. Eu não posso ter amigos meninos porque você acha que todos eles estão dando em cima de mim e...
- Se você tivesse uns amigos melhores e mais confiáveis, eu não teria razão para ficar desconfiado.
- Amigos melhores? Ahan... - Paola então cruzou os braços, olhando para Guilherme sentado em frente a ela. - Defina "amigos melhores".
- Ah... Amigos que... Que não dêem em cima de você, oras!
- Aí ó, está vendo? Você nem sabe porque desconfia de mim. Para mim você gosta de brigar. Paranóico!
- Você está me chamando de masoquista? É isso?
- Bom, Guilherme, você não está me dando outras opções aqui. Tudo me leva a pensar que você é masoquista paranóico!
O Guilherme ficou furioso. Mas isso não intimidou a Paola e ela continuou:
- Masoquista, paranóico e ciumento! - Pausa. - E inseguro!
- Inseguro? Não fala bosta, Paola!
- Se você fosse mesmo seguro como você acha que é, não teria esse ciúme doentio de mim.
- Desde quando não querer ser corno é insegurança? Eu estou cuidando do que é meu.
- Então é isso que eu sou para você, não é? Uma propriedade, uma posse... Machista!
- Antes machista do que corno.
- Guilherme, eu posso não gostar das suas amigas e posso achar que elas se esfregam em você, mas eu nunca disse que você me trairia com elas. Eu nunca desconfiei de você.
O Guilherme ficou em silêncio um instante. Os olhos da Paola começaram a brilhar, lacrimejantes, querendo chorar. Ele sentiu-se péssimo. E ela, com o seu coração dilacerado. Quase deixando as lágrimas caírem, ela sussurrou:
- Poxa, Guilherme... Pensei que você confiasse em mim.
- Não, Paola, olha...
- Pensei que o nosso namoro significasse mais para você...
- E significa, Palola...
Ela levantou o rosto enfurecida, aos berros:
- Não me chama de Palola! Eu odeio esse apelido!
- Você odeia? Desde quando você odeia? - o Guilherme levantou a voz também. - Você adora!
- Não, eu odeio! Eu não quero mais que você chame de Palola. Aliás, não me chama de mais nada! Eu odeio esses apelidos cretinos que você inventa! Você só me inventa apelido idiota!
- O quê? São apelidos super criativos, ok?
- Ah, claro, muito criativos... Palola, Palmeira, Paolita, Pazinha, Pazinha de Areia, Pocahontas, Lola, Lita... Meu Deus, LITA! O meu nome é Paola e você às vezes me chama de Lita!
- Mas você se parece com a filha daquela amiga da minha mãe, aí às vezes eu te chamo pelo apelido dela.
- E desde quando transferir apelido de uma pessoa para outra é criativo?
- Vai, continua! Xinga! Fala mal do que eu faço! Sempre foi assim mesmo, não é Paola? Você nunca gostou de nada do que eu faço para você! É só isso que você faz, só sabe me xingar e me criticar!
- Isso não é verdade. Eu sempre te apoio em tudo.
- Mentira! Você por acaso lembra de quando eu te falei que estava com medo de tirar o siso? Lembra?
- Guilherme, aquilo foi diferente.
- Você riu e perguntou se eu já não era meio grandinho para ter medo de cirurgia.
- Ué, eu fui sincera.
- Você sabe muito bem que eu não gosto de ver sangue. E isso não tem nada a ver com ser "grandinho"!
A Paola ficou em silêncio um minuto. E disse:
- Tá, mas foi só isso também. No resto eu...
- Você nada! Lembra no dia do seu aniversário, que a gente discutiu?
- Ai, o desenho de novo... Guilherme, você não esqueceu disso ainda?
- Esquecer? Como você quer que eu esqueça? Eu fiz aquele desenho para você como pedido de desculpas e você assim que olhou para o papel, riu porque não estava bem desenhado.
- Mas não estava mesmo! Como eu ia saber que aquela berinjela era um coração?
- Eu fiz com pressa, poxa!
- Eu ri porque eu estava brava com você. - Pausa. - E você tinha afundado a cara da minha amiga no meu bolo de aniversário. O que você queria? Que eu te desculpasse assim? - estralando os dedos.
- Foi ela quem começou com aquela brincadeirinha estúpida de passar o dedo no chantilly e sujar o rosto dos outros. Ela veio fazer isso em mim, eu enfiei a cara dela no bolo mesmo. E faria de novo.
- Guilherme, era uma brincadeira.
- Não interessa, eu não gostei.
- Você é um grosso, isso que você é.
- Então é assim, Paola Castanhegue? Ótimo. Pois eu estou terminando nesse momento com você.
- O quê?!
- É isso mesmo. Não quero mais nada com você. Chega! Não agüento mais.
- Ah, você não agüenta mais? - ela colocou as mãos na cintura. - Pois sou EU quem não agüenta mais, queridinho. E sou EU quem está terminando o namoro.
- Mas não mesmo! Eu terminei primeiro!
- Terminou nada! Eu já havia pensado nisso desde que entrei aqui.
- Ótimo!
- Ótimo!