ai, você está lá, firme e forte no regime, 100% guerreira, até que você vai na casa da sua amiga. e lá tem pizza. aí você se recorda dos dias suados de saladinha e arroz puro, frutinha à tarde, naquele esquema refeição-Somália. aí você dá aquele grito de liberdade interno (normalmente um "FODA-SE" ou algo primitivo do tipo) e se dana a comer. um pedaço. aí o seu cérebro cansado de enviar heroicamente mensagens elétricas de fome para o seu estômago através das suas ligações nervosas, diz: "ah, você se quebrou tanto essas semanas. come mais um pedaço". nessas, você já está indo pro terceiro e nem tchunsk.
depois, a satisfação de ter comido bem. ai, alívio. "só final de semana. segunda eu já retomo". voltar a ser uma adepta do sofrimento. nesses dias você se sente a verdadeira Amazona. só falta te darem um cavalo e uma tanguinha, porque o espírito sobrevivente você já tem. afinal, quem passa à base de saladinha, barra de cereal e água merece o título de Faquir do Ano. e com todas as honras. mas sem os canapés e as coxinhas, por favor.
que dureza, viu. aí chega em casa e dá de cara com uma torta de morango com merengue caseiro que a sua tia fez com todo o carinho e pediu pra sua mãe levar um pedacinho num 'tãpãuér' pra você. "bom, já que o negócio desandou mesmo, por que não um bolo com merengue?". e se entrooocha de novo.
ai, por isso que eu digo: regime é uma merda. não tem outra palavra que defina melhor esse negócio de passar fome: merda. regime = merda. são sinônimos. regime, merda, merda, regime. tudo da mesma classe. cagar merda e cagar regime é a mesma fética coisa.
mas tudo bem, eu não desanimei. foi só um dia. eu não vou deixar me abater por causa de merdas 24 gulosas horas. amanhã é outro dia. aproveitar que a minha mãe comprou tudo que é tipo de fruta, até carambola (não, a gente não é rico. provavelmente carambolas estavam em promoção. só há esta explicação pra isso), eu vou me alimentar só de frutinha. laranjas no café, carambolas no almoço, limões espremidos no jantar. super balanceado, controlado e escasso, o que resultará no quê? penúria. fome. fome em sua mais primitiva essência. daquelas que fazem o estômago roncar ardido. você fica tão desesperada, que por um instante, dar com a cabeça na parede soa plausível.
mas tudo bem, sem
pânico. um dia hei de ser magra, feliz e esfomeada. eu acho que eu vou virar astronauta. não são eles que só tomam uma pílula nas refeições? deve ser... porque eu nunca vi astronauta gordo.