Tão bonitinho o garoto que eu gostava. Sorrisinho de lado, o jeans básico e escuro, um Lee largado e já acostumado com o corpo dele, camiseta preta sem muito esquema, nem-tão-larga-nem-tão-justa. Sempre chegava quando eu não estava vendo. Colocava as mãos nos meus olhos no momento em que eu estava de costas para brincar de adivinhar quem é. Todo menino. Quando fazia isso, me segurava pela cintura e encostava o peito nas minhas costas, sussurrando no meu ouvido. Todo homem.
Meio garoto inocente, meio homem cafajeste.
Então às vezes a gente sentava no banco da praça depois de sair do trabalho. Ele se espreguiçava, com os braços pra cima, e a camiseta nem-tão-larga-nem-tão-justa subia. A barriga aparecia. Eu sempre desconfiei que isso era de propósito. Metido. Todo metido. E eu fingia que não percebia, só pra não dar esse gostinho. Só pra não ficar vermelha e cheia de vontade de morder.
O cabelo liso, caído, desarrumado. Toda hora estava no olho. E ele fazia que não ligava. Eu às vezes ajeitava só para tocá-lo. Ele fechava os olhos, sorrindo de lado como quem está gostando, enquanto eu passeava com os dedos por entre o cabelo pesado, bem preto e macio. Todo menino. Eu terminava, ele abria os olhos e mandava um beijinho. E mordia o lábio. Todo homem. Três minutos depois, lá estava o cabelo de novo, todo desalinhado. Só pra eu arrumar de novo. Tão bonitinho o garoto que eu gostava.
Às vezes, eu parada, encostada em uma mesa, ele entrava na sala e cismava que precisava pegar alguma coisa atrás de mim, bem na mesa onde eu estava. Vinha sorrindo, tão gracioso quanto inocente. Então se aproximava de mim, me rodeava a cintura e ficava com a boca a um dedo mindinho de distância da minha, tentando apanhar aquilo que supostamente se localizava logo atrás de mim. Eu não denunciava, mantinha a postura, me segurava no salto. Mas quem não sabia que era tudo pose... Ele sabia. Falava me olhando com cara de desconfiança "eu sei que você não é brava assim".
Mas ele não era pra mim. Mesmo quando ele me levava um bombom, eu sabia que era um sentimento de garoto-certinho-mas-só-nas-horas-vagas,-quando-estou-apaixonado. Chegou todo menino. E me machucou como um homem. Foi embora assim, todo gente grande.