XuCruTinho
quarta-feira, agosto 13, 2003
 
E lá estava você, cheia de certeza de que está tudo sob controle na sua vida. Tudo correndo bem, você até que estava num peso bom, andava até que dando bastantes risadas, não exatamente saltitando de alegria, mas é, estava vivendo, nem triste nem feliz.
Pelo o que você sabe, neste contexto de meio alegre, meio triste, homem nunca foi uma coisa que te fez aquela falta. Ao contrário da sua mãe, que sempre arranjou namorados bizarros, portadores de psicopatias assustadoras, você sempre evitou esses tipos. Claro, no fundo você sabia que nem todos os homens eram assim, doentes como os namorados da sua mãe, mas para não correr o risco, você simplesmente ignorava todos eles. E mesmo aqueles que te despertavam algum interesse, você fugia. Na hora de ser a mulher, de ser feminina, você planejava, elaborava estratégias, esquematizava ações de ataque, isolando em qualquer canto da sua mente a sua espontaneidade. Aí dava tudo errado e você ficava ainda mais convencida de que não era pra ser. Que estava bom sem ninguém, sem homens pra dar satisfação, sem homens pra compartilhar até o que você não queria compartilhar, sem homens para ter ataques de ciúmes. Em outras palavras, as paixõeszinhas existiam, mas nada de muito intenso. Coisa leve, sem grandes abalos.
Bom, um dia aconteceu. Você não sabia, não premeditava, mas qualquer pessoa podia prever. Uma hora você ia se apaixonar e ia desejar que tudo ocorresse de um jeito diferente. Tudo começou com uma amizade, aquelas conversas bobas, sem compromisso, piadinhas... Depois as conversas mais sérias, os desabafos, as reflexões. Então, a revelação. Vem à tona a pessoa maravilhosa que ele é, o homem lindo que ele conseguia ser, a atração, a vontade de beijar e estar com ele. E a mulher dentro de você lá, gritando, berrando com os braços pra cima, tentando chamar a sua atenção, tentando te convencer a deixá-la aparecer só por um instante.
Mas como você poderia... Você nunca se sentiu como uma. O seu pai, aquele pai que você idealizou por tanto tempo, que você admirou por tanto tempo, nunca quis que você fosse feminina. "Eu não te trago no shopping pra ficar olhando os meninos", ele dizia toda vez que vocês iam fazer compras para o Natal. Burra, uma mulher feia e burra, é o que você acreditava ser. É o que o seu pai lhe dizia, como se para ele você precisasse não ter sexo, precisasse ser neutra, não pudesse sentir ternura, amor, paixão, tesão, vontade de estar com um homem. A sua mãe, até esse momento a culpada pela sua vida amorosa truncada, no final se mostrou inocente.
O seu pai nunca te confirmou como mulher. O maior orgulho dele sempre foi a sua antipatia pelas noitadas, o seu comportamento quase que angelical nas festas, o seu currículo amoroso zerado, como quem procura pelo primeiro emprego. Disso ele sempre se gabou para os amigos quando a conversa era filhos. No Ano Novo, enquanto todos queriam sair aproveitar, você queria ficar quietinha em casa. As suas amigas, filhas dos amigos do seu pai, te convidavam pra ir pra rua, mas você recusava. O seu pai dizia para os amigos, com aquela expressão de vitória: "A minha filha não gosta muito de sair à noite. Não gosta muito de agito, bagunça, confusão...". Talvez um dia ele ainda viesse a completar a frase: "Não gosta muito desses homens". Não que ele torcesse para que você fosse lésbica ou freira. Ele só queria que você fosse uma filha assexuada. Como as plantas aquáticas, que se reproduzem sozinhas.
Para reforçar a vontade dele e ter certeza de que daria certo, o seu pai ainda te fez crer que você, além de não poder liberar a sua feminilidade, seria punida se o fizesse. "Mas não porque eu vou punir, mas a sociedade vai. Como você acha que os homens vão ficar quando souberem da mulher burra que você é? Então nem adianta querer seduzir e se arrumar e fazer essas coisas porque não vai adiantar. Você é burra, feia e não tem conserto".
E você como sempre admirou e idealizou o seu pai, acreditou que esse era o melhor a se fazer. Dependeu dele a vida todinha pra estar bem. Se ele ficava feliz te vendo sozinha, então ficava sozinha. Tudo para fazer seu pai feliz.
Agora aí está você, anos depois, com pavor de relacionamentos. Não porque você acredita que os relacionamentos podem te machucar, como aconteceu com a sua mãe. Mas sim porque você não se sente mulher o suficiente para estar em uma relação. Você é... Meia mulher. Metade de uma. Não importe o quão linda você esteja, não importa quantos quilos você está pesando, não importa a sua idade. Você não se sente uma mulher inteira.
Mas agora... Agora você está apaixonada. Você quer do fundo do coração que seja diferente.
E você pode. Porque você não depende das opiniões do seu pai ou dos fracassos da sua mãe para construir sua própria vida. Os seus namorados não são os namorados da sua mãe, muito menos são os namorados que o seu pai acredita que você está condenada a arrumar. Aqueles homens que vão rir de você, que vão te olhar como o seu pai te olha, como se você fosse uma planta aquática, 100% assexuada.
Não dessa vez. Dessa vez você quer fazer direito.
Já decidiu.
Vai mandar pro inferno todas as podridões que herdou da família.
E usar a criatividade, mais uma vez, para trabalhar no seu eu único, desvinculado das neuroses e frustrações dos seus pais.

E planta aquática é a mãe!
 
Em 100% das vezes em que perguntam meu nome e eu digo que é Gabriela, ouço um “Gabriela? Cravo e canela?”, seguido de uma risada. E todas estas pessoas realmente acreditam que a piadinha é super original. Se eu te chamar de jaguara é porque gosto de você. Jesus é tudo pra mim.

Nome:
Local: Brazil

Anos se passaram, Gaby é jornalista formada, locutora de rádio, e continua molhando o pão no Nescau. Sou adepta do regime eterno, ainda tenho problemas sérios para comer de palitinho e fico levemente ofendida com a careta que as pessoas fazem quando eu conto que tenho um gato e ele se chama Xaninho. “Xaninho?? Que nome é esse?”. Um dos meus hobbies é gente esquisita. Eu adoro prestar atenção na história delas. Tenho medo do orkut. E de mariposas peludas. Ui. Eu costumo sonhar com pessoas famosas. Já sonhei que o Eminem vendia perfumes, que o Keanu Reeves estudava comigo e pegava um ônibus chamado “Vila Adidas” para voltar pra casa e que o Bon Jovi era meu melhor amigo. Eu gosto muito de torta de limão.

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