Eu queria poder explicar para as pessoas perto de mim o que eu estou sentindo, mas eu nunca conseguiria. É uma daquelas alegrias que não tem como transmitir. Que é tão grande, que se você fosse tentar explica-la para alguém, com certeza te tachariam de psicologicamente abalado. O meu irmão certamente diria que é alguma espécie de fuga do meu inconsciente e a minha mãe ficaria preocupada porque, pra ela, eu sempre estou escondendo alguma coisa ou idealizando outra.
Bom, o que eu concluí foi que o quê eu estou sentindo é uma daquelas coisas tão grandes que parece que vai sair pela sua pele. Algo forte, que me faz sorrir quando me lembro que mora dentro de mim e que coça a garganta querendo fazer umas lágrimas caírem, mas que eu disfarço sorrindo e olhando para alguma janela próxima.
E já que não dá para compartilhar com a sua mãe, nem com o seu irmão, nem com a melhor das suas amigas, eu falei tudo para a Parede. Não que eu seja uma dessas pessoas que falam sozinhas, mas não sei... Eu pensei em várias pessoas que poderiam ouvir a respeito disso que eu estou sentindo e nenhuma delas me pareceu merecer ouvir. Nenhuma delas daria o devido valor.
É estranho porque eu sempre dei tanta importância para a profissão, para o famoso o-que-eu-vou-ser-no-futuro, sempre tratei sentimento como uma conseqüência do inconsciente, como um problema psicológico... E agora, olha só para mim. Aqui estou eu, tentando descobrir porque o universo inteirinho ando morando na minha garganta.
Não sei quanto a vocês, mas conversar com a Parede foi a melhor coisa que eu já fiz. Deitei na minha cama, abri a janela e fechei os olhos. "Sabe, Parede, eu... Eu não estou com medo. E estou orgulhosa de mim mesma". Não que eu não acredite nas pessoas nesta parte de compreensão. Eu não duvido que haja alguém que possa me entender e entender o que se passa comigo neste momento. Quer dizer, deve ter alguém por aí capaz de captar o que eu sinto agora, só que não adianta, eu não acredito que exista tal pessoa. Pelo menos por agora. Eu até falaria, me abriria, mas eu ia precisar de uma atenção total e absoluta, uma atenção que dificilmente eu fosse obter. Tudo bem, eu não estou revoltada por não poderem me dar isso. Não é culpa de ninguém se eu sou exigente. Ou chata, sei lá... Não importa.
O que importa é que eu estou muito feliz. Quando vocês puderem, sintam-se assim. É a coisa mais linda que Deus poderia ter criado.
Ouçam: Trilha do filme O Fabuloso Destino Amélie Poulain, música "A Quai".