XuCruTinho
sábado, agosto 07, 2004
 
Gaby continua em busca do cara perfeito. Principalmente agora que seus conceitos sobre a perfeição masculina mudaram tanto.
Hoje eu entrevistei o Paulinho Moska. Muito legal. Foi pelo telefone. A intenção era tomar as mesmas precauções e executar os mesmos procedimentos que eu tomei no dia da entrevista com Dori Caymmi. Sabe como é, com esses caras não dá pra ficar marcando, fazer o tipo desinformada, dar o luxo de cometer uma gafe, ficar tranqüila, sem pensar no que vai perguntar em seguida, e quando o cara termina a resposta você fica "ééééé... entãããão..."... não dá, não pode, tem que ler sobre o cara, tem que saber do que vai falar, tem que ouvir um pouco da música. Tem que fazer, tem que ir atrás.
Mas hoje não deu tempo. Não teve como. Eu tinha tanta coisa pra fazer, pra apurar, tanto boletim pra dar ao vivo; a Simone, nossa pauteira, toda hora vinha com uma coiséca "Gaby, tem que apurar o caso lá dos sem-terra no noroeste do estado. Tem que ver se já foi feita a reintegração de posse. Se tiver novidade, escreve um texto e entra ao vivo no jornal". Lá ia a Gaby, correndo, ligar pra Secretaria de Segurança. Quando eu respirava, vinha a Simonilda de novo "Seguinte, Brandaláise, tem que verificar o caso do incêndio que matou uma pessoa na região metropolitana de Curitiba. Liga lá pra assessoria dos Bombeiros ou para a delegacia pra apurar. Pega as informações e entra ao vivo". O tempo ia passando e eu não conseguia parar um instante para ler a pauta sobre o Paulinho Moska. Eu sabia alguma coisa dele, como por exemplo que o nome artístico dele remete ao universo artrópode, mas claro que não era o suficiente. Eu precisava saber, pelo menos, sei lá, o nome de uma música dele ou o nome do cd que ele estava lançando, ou NO MÍNIMO, que tipo de música exatamente ele tocava.
Quando eu vi, já era dez para as dez da manhã. A entrevista estava marcada para as nove e meia (se você é bom de conta, você vai perceber que eu estava completamente atrasada) e eu não tinha lido absolutamente nada.
Aí eu pensei "bom, já estou atrasada mesmo, vou perder mais cinco minutinhos dando uma lida nesse material aí eu ligo pra empresária dele pra fazer a entrevista". De repente, a Simone grita: "Gaby! A empresária do Paulinho Moska está na linha! Corre pro estúdio que eu vou transferir e você já faz a entrevista". A única coisa em que você consegue pensar nessas horas é: "AaaaAaAAaaaAaAaA!!!".
Corri lá. Por mais que eu conhecesse do Paulinho Moska só um pouquinho, pô, eu tenho noção de que o cara é bom. Eu sei que ele é respeitado pra burro no meio, que ele tem letras bacanas (apesar de nunca ter lido nenhuma), que ele tem uma puta veia artística... Sabe esse tipo de coisa? Que você ouve, lê uns inícios de matérias de revista, ouve falar, vê ele ganhando prêmios no Multishow...? Então.
E cara, não é que foi linda a entrevista? Eu nem consegui apagar o MD porque foi linda mesmo. Eu tenho facilidade pra fazer entrevista sobre isso, agora eu percebo muito claramente. Eu achei que isso não era grande coisa, achava que "ah, grande bosta que eu sei fazer uma entrevista decente sobre música, qualquer um faz isso". Mas lá na redação, ninguém tem essa facilidade. A minha chefe é uma que vive dizendo "matéria de cultura? Passa pra Gaby". Ela não queria entrevistar o Paulinho Moska porque não manjava nada dele. Eu também não manjava, mas a diferença entre a minha chefe e eu é que eu consigo fazer fluir, eu entendo o que o cara está contando, eu tenho facilidade para compreender com a alma do que ele fala. A minha chefe não. O negócio dela é política. Nossa, como ela manja. Eu gosto de política também, mas não tenho essa coisa de entender e contextualizar nas épocas, fazer analogias, como eu consigo fazer com música brasileira.

Enfim.

Aí tá, liguei para a empresária e ela passou o telefone pra ele.
Gente, o que é aquele ser humano? Que pessoa doce... Sabe uma pessoa doce? Uma legitimamente doce? Não essas cópias baratas que você encontra por aí, aqueles caras que te chamam de "linda" e respondem "pô, que bacana" pra tudo o que você diz, jurando que este é o ápice do traquejo social. O Paulinho Moska é um lindo. E ele tem uma voz... Uma voz deliciosa. E ele vai falando, com aquele sotaque meio carioca, aquela atitude sutilmente sedutora, respondendo tudo do jeito que jornalista gosta, completinho, nada de "é um cd mais introspectivo, com letras mais pessoais"; não, nada disso, só resposta ninja, que te inspira a escrever um materião, usando palavras chiquérrimas como "soturno" e "regozijo"... Outro padrão, sabe. Coisa fina mesmo.
No final da entrevista, eu me despedi dizendo que tinha sido um prazer conversar com ele, que tinha adorado, desejei um bom show, aquelas coisas (sinceras, é sempre bom enfatizar. Piegas, clichê, mas sinceríssimo)... E comentei que estava afim de dar uma passada lá. Aí ele: "Isso Gabriela, vai lá, pra gente se conhecer, pra eu te dar um abraço".
Eu me apaixonei por ele.
A intenção de ir, inicialmente, era algo muito inconsciente, quase que irrealizável, completamente escondido no meu jeito cidadã-simpática de ser. Havia uma vontade imensa de ir, mas digamos que ela estava bem presa no meu inconsciente. A grosso modo, eu queria ir, mas estava morreeeendo de preguiça.
Mas como eu disse, eu me apaixonei por ele.
E quando a gente se apaixona, ninguém segura.
Antes de ver o que eu estava fazendo, fui trocar uma idéia com as minhas amigas da produção, pra ver se valia a pena. "Gaby, vai lá. Se ele falou pra você aparecer, vai. Ele é um querido... E um gatinho também". Caso você tenha questionado mentalmente durante este parágrafo, ele tem 36 anos.
Além de estar apaixonada por ele, eu estava curiosa pra saber qual que era dessas músicas dele, que são uma mistura muito absurda de elementos que teoricamente não deveriam sequer se aproximar um do outro.
As minhas amigas me encheram tanto que eu acabei ligando pra empresária dele perguntando se eu podia ir assistir a passagem de som. Ela disse que sem problemas. Avisou que estava marcado para as sete horas da noite.
E lá fui, direto do trabalho, cansadássa. É lógico que atrasou, imagina se essas coisas começam na hora... Mas não reclamo, porque cada segundo foi maravilhoso, até aqueles em que eu estava esperando no baréco, conversando com um povo que fez faculdade comigo e que eu encontrei por lá. Só pra constar nos autos, eu não bebo.
O Paulinho Moska é o cara idealizado. Ele é todo lindo, todo bonito, de um jeito musical, de um jeito todo artístico, todo clássico, todo poético. Ele se move de uma maneira linda, e fala gostoso e sorri bonito. E nem sabe disso. Dá vontade de ser amiga dele, de conhecer, o cara é um amor. "Oi, Gábi, que bom que você veio. Pô, hoje quando eu estava falando com você, eu estava no aeroporto, tirando as malas do carro, indo para o avião, todo bagunçado... Loucura". E eu ria: "Eu vi mesmo. Uma hora picotava e eu pensava... Ih, pronto, passou embaixo de um viaduto". O cara idealizado. Um doce. Uma torta de limão ambulante.
Fuma que nem um condenado, é magro de tanto fumar, fumar e não comer nada, mas é lindo.
E a passagem de som? Nossa... cada música... parecia, sei lá, um anjo charmosão, de voz gostosa, usando chapéu cata-ovo, que tinha descido no palco. Lindo. Claro que totalmente idealizado.

Mas óbvio que tinha que ocorrer algo estranho, era Gaby quem estava saindo de casa. Um guitarrista da banda achou que era uma daquelas garotas tietes meio groupies, que querem dormir com qualquer músico. O cara começou a me rodear, puxou papo e veio com umas conversinhas do tipo "então... eu sou guitarrista, sabe. Toquei com o Paulinho em Floripa, Porto Alegre, agora estou aqui, talz...". A minha vontade era de soltar um daqueles "nossa, parabéns pra você" básicos, mas sei lá, eu estava amando, né, completamente apaixonada, então resolvi ser simpática. Sorri amarelo, respondi na boa, desconversei... "Vem aí mais tarde de novo", ele disse. Ahan... vai sonhando.

O meu romance com Paulinho Moska durou exatamente 24 horas. Ficou só a admiração e o tesão pela voz e pelas músicas do cara. Gênio... Outro padrão. Ooooutro padrão.
 
Em 100% das vezes em que perguntam meu nome e eu digo que é Gabriela, ouço um “Gabriela? Cravo e canela?”, seguido de uma risada. E todas estas pessoas realmente acreditam que a piadinha é super original. Se eu te chamar de jaguara é porque gosto de você. Jesus é tudo pra mim.

Nome:
Local: Brazil

Anos se passaram, Gaby é jornalista formada, locutora de rádio, e continua molhando o pão no Nescau. Sou adepta do regime eterno, ainda tenho problemas sérios para comer de palitinho e fico levemente ofendida com a careta que as pessoas fazem quando eu conto que tenho um gato e ele se chama Xaninho. “Xaninho?? Que nome é esse?”. Um dos meus hobbies é gente esquisita. Eu adoro prestar atenção na história delas. Tenho medo do orkut. E de mariposas peludas. Ui. Eu costumo sonhar com pessoas famosas. Já sonhei que o Eminem vendia perfumes, que o Keanu Reeves estudava comigo e pegava um ônibus chamado “Vila Adidas” para voltar pra casa e que o Bon Jovi era meu melhor amigo. Eu gosto muito de torta de limão.

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