- você vai na academia hoje? - você, ser humano do sexo feminino, pergunta.
- não sei... - ele responde.
- a gente podia se ver, né...
- é.
- quer que eu vá até a sua casa pra gente fazer alguma coisa?
- não sei...
- se quiser, eu vou, sem problemas.
quando você desliga o telefone meio frustrada, depois de combinar com o namorado de se encontrar com ele só no final da semana, você se sente meio idiota. o relacionamento já dura há alguns meses e esta é a primeira vez que você pára para refletir a respeito das vezes que ele te convidou para fazer alguma coisa. o número corresponde ao total de eletrodomésticos que você possui no seu apartamento de solteira: pouquíssimos. contraste total e absoluto se o mesmo número for colocado ao lado das vezes em que o convite partiu de você. seria como contar quantos períodos menstruais uma mulher de 40 anos teve em toda sua vida. a conclusão é que o seu namorado te ama, claro que sim. ele só não está nem um pouquinho interessado em você. pra falar a verdade, você não tinha idéia de que as duas coisas poderiam andar separadas, amor e interesse. também não tinha a menor noção de que a mulher, para ser interessante, precisava se policiar para não cometer alguns erros discretos (porém determinantes), como se mostrar muito carentona e não dar espaço para o sujeito ter iniciativas. prometeu a si mesma tomar mais cuidado na próxima. a chance de colocar o aprendizado em prática não demorou. no outro dia, lá estavam vocês ao telefone.
- oi amor, - ele começou - hoje eu vou levar aqueles cd's na casa do meu amigo, ali ao lado do shopping. que horas você sai do trabalho?
- às cinco. por quê? quer que eu vá até o shopping pra gente se encontrar?
- é, pode ser. aí a gente dava uma volta e depois...
- depois a gente podia voltar juntos pra casa - você completou, toda feliz.
- é. lá por umas sete da noit...
- aaaaii amor - você interrompeu - agora que eu lembrei, eu não posso, tem reunião até mais tarde hoje.
- ah - com aquele tom de "por que não disse antes?"
desligaram. novamente, a nítida sensação de idiotice. quando ele estava prestes a fazer o convite, você simplesmente saiu na frente, tirando toda a mágica do processo. a culpa, nesses meses todos, foi sua. a sua afobação, a sua ansiedade, a sua carência, te impedem de relaxar e deixar as coisas fluírem. "que raiva", você pensou. fez mais promessas interiores. se comprometeu a se acalmar e deixá-lo falar a frase completa no próximo diálogo. e este veio rápido.
- amor, eu vou viajar esse final de semana com o pessoal da banda - ele ligou para compartilhar.
- quer que eu te ligue quando você estiver lá, amor? - você já foi direto ao assunto.
- ahm... tá, pode ser.
- boa viagem, amor. se cuida lá. eu te ligo.
desta vez, o "feeling" veio antes mesmo de o telefone ser colocado no gancho. "o que tem de errado comigo?", você indagou. o que mais te desesperava era saber que isso a tornava desinteressante ao extremo. mulher na mão deveria levar um aviso de PERIGO no pescoço. por trazer desânimo e mesmice para qualquer relacionamento.
CONTINUA...