XuCruTinho
domingo, dezembro 26, 2004
 
O negócio rola tipo um homicídio. Você se enche de ser magoado por aquela determinada pessoa e mata ela. Mata mesmo. Nem todo mundo tem coragem, mas o ideal é que o homicídio seja antecedido por uma explicação. "Seguinte, estou te matando por causa disso, disso e disso. Cansei. Quero que você morra". E consuma o ato.
Nesta semana, eu matei um amigo meu. É sempre terrível fazer isso. Chega um determinado momento em que você precisa escolher. "Ou ele ou eu". Eu sei que soa frio e calculista (porque os frios sempre são calculistas), mas não tem outro jeito. Poxa vida, era uma atrás da outra! Aí tem aquele fator milenar de que as boazinhas sempre se fodem. Sei lá, eu não me considero uma pessoa boazinha, mas me fodi mesmo assim, o que prova que o dito ditado é mentiroso. Você não precisa ser bonzinho pra se fuder.
E também, o problema não residia 100% na minha pessoa. Porra!, o cara também era brincadeira! (...momento de fúria...) Tudo começou por causa de uma bendita de uma batata. Eu, uma amiga do trabalho (vamos chamá-la de Dileta) e o Tadeu (nome também fictício) íamos nos reunir para fazer batata inglesa, aquelas que parecem um tumor e vem entupida de recheio dentro. Os que sabem qual é, levantem a mão.
Quem sabia fazer era ele. Todo mundo empolgado. Tipo reuniãozinha de fim de ano. Ia ter vinho e o escambau. Frisando então: batata inglesa com recheios variados e vinho. Soa bacana, não soa? Até aí, nenhum motivo aparente para ninguém furar. Claro, se não fosse o detalhe: o Tadeu já tinha um histórico de furar coisas. Ele sempre furava. Era combinar e levar cano. Se ele te convidava, era só pra te dar cano. Eu sempre ficava puta com isso. Ficava puta com esse prazer mórbido que ele tinha de desapontar pessoas que gostam dele. Poxa, batata inglesa, recheios variados e vinho. Quem ia querer dar os canos?
No sábado, ele ficou de ligar pra mim. Ligou. Nem bem deu alo, já soltou aquelas conversas completamente moles e usou as mesmas coisas pra dar desculpa esfarrapada. "Ah, a minha filha está aqui, a minha filha está dormindo, eu ia levar a minha filha, mas ela está dormindo...". Ahan, tá, sei. Patife. Como ele ousa usar uma pobre e inocente menininha como escudo? Falei que era pra ele ver o que queria fazer e que eu ligava em uma hora.
Aí liguei pra Dileta: "Poxa, eu fiz arroz doce pra esperar vocês", ela disse. Eu: "Ai, Di... Que fofa... Poxa, eu queria ir, mas esse Tadeu de uma figa" (o 'figa' também é fictício. O termo 'de uma figa' não está no meu vocabulário corriqueiro).
Passou uma hora, liguei pra ele. Assim que ele disse alo, eu escutei lá no fundo um "PAAAAIIII..." e um corte. Ele tapou o telefone correndo, pra eu não ouvir que a filha dele tinha acordado. Eu não sei se vocês estão entendendo, mas ele estava cozinhando eu e a Dileta por quase três horas (ele me ligou a primeira vez era mais ou menos seis da tarde e isso já era umas oito e meia da noite) porque não tinha coragem de dizer que não queria ir. Aí eu: "Alo? Alo?". Ele: "Pois é, então, eu vou ver se consigo falar com a minha mãe pra ficar com a minha filha, vou continuar tentando porque ela está dormindo e...". Eu: "Tá, tá, qualquer coisa você me liga". Mentiroso de uma figa. De uma puta figa. Ele não queria que eu ouvisse que a filha dele tinha acordado porque aí ele levava ela e não tinha desculpa.
Sabe, eu não entendo. Que espécie de pessoa dispensa batata, recheios variados e vinho? Que espécie de pessoa forja uma circunstância pra fugir de mim, da Dileta, das batatas e do vinho? Eu fiquei muito brava. E depois desta milésima pisada de bola, eu resolvi matá-lo. Morte morrida mesmo. Mas sem ressentimento. Bem na esportiva, com muita elegância e em ritmo de amor ao próximo. Tipo "desculpe, o que você está fazendo no mercado de ping pong se você não tem idéia de pra que serve uma raquete? Ahm, não, definitivamente não é para mini-pizzas". O que eu quero dizer é que, quem não tem o mínimo de sensibilidade pra ter uma amizade, o mínimo de caráter já digo (porque forjar coisas e fingir e mentir é falta de caráter na minha opinião) não deveria sair por aí se entitulando amigo de alguém. Claro que ninguém é obrigado a querer ir a algum lugar ou ir com determinada pessoa a esse lugar. Ele não precisava gostar de mim, da Dileta ou das batatas. Ninguém é obrigado a nada. Mas poxa! Não combina as coisas então!
Aí fui lá e matei. Cortei relações. Porque o Tadeu é um daqueles caras que cagam pra qualquer manifestação de vida no planeta. Pessoas assim deveriam aprender a ser amigas, pra só depois se arriscarem no mercado.
Poxa vida, viu... Eu gostava do Tadeu. Mas assim como ele faz as escolhas dele, de magoar os outros e estar se lixando pro arroz doce alheio, eu faço as minhas. E eu optei pela morte súbita. Tchau e benção.
Agora, eu estou aqui, curtindo um luto. Pelo Tadeu e pelas batatas, que eu acabei não comendo. Um veloriozinho psicológico, aquela coisa básica... Fazer o que, a gente perde coisas e pessoas todos os dias. O negócio é se habituar. Esse Tadeu, viu... Pisou feio na bola.
Quem já passou por isso, por favor, seja solidário e levante a mão.

 
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Em 100% das vezes em que perguntam meu nome e eu digo que é Gabriela, ouço um “Gabriela? Cravo e canela?”, seguido de uma risada. E todas estas pessoas realmente acreditam que a piadinha é super original. Se eu te chamar de jaguara é porque gosto de você. Jesus é tudo pra mim.

Nome:
Local: Brazil

Anos se passaram, Gaby é jornalista formada, locutora de rádio, e continua molhando o pão no Nescau. Sou adepta do regime eterno, ainda tenho problemas sérios para comer de palitinho e fico levemente ofendida com a careta que as pessoas fazem quando eu conto que tenho um gato e ele se chama Xaninho. “Xaninho?? Que nome é esse?”. Um dos meus hobbies é gente esquisita. Eu adoro prestar atenção na história delas. Tenho medo do orkut. E de mariposas peludas. Ui. Eu costumo sonhar com pessoas famosas. Já sonhei que o Eminem vendia perfumes, que o Keanu Reeves estudava comigo e pegava um ônibus chamado “Vila Adidas” para voltar pra casa e que o Bon Jovi era meu melhor amigo. Eu gosto muito de torta de limão.

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