Não é bem um aperto. É mais como... Uma angústia, eu acho. Algo que incomoda. Não, é mais que isso. Incomoda, mas ao mesmo tempo te dá vontade de chorar. É um incômodo mais... Grave.
Nesses dias, tudo o que eu quero fazer é caminhar. Aí eu olho para as árvores e vejo uma beleza exagerada nelas. Beleza que muitas vezes nem está ali. Melancolia. Estar melancólico é como estar sob efeito de droga. Você fica sensível. Você sente as coisas em proporções quase que virtuais.
E o incômodo grave está ali. Tudo por causa do quê? Hein? Eu não sei direito... Às vezes começa de uma sensação de cansaço. Um desânimo leve que te faz prestar atenção, por alguns segundos, em cada parte do seu corpo. Meu Deus, eu estava esgotada. Eu mal conseguia elaborar um raciocínio sem que ele borrasse. Os meus olhos pareciam estar cheios de areia. Como eu consegui passar o dia inteiro em pé, trabalhando, sem perceber isso?
A melancolia veio daí. Eu comecei a notar que precisava prestar mais atenção no meu corpo. E no que ele queria de mim. A primeira coisa que eu notei: ele queria parar de ser rejeitado. Por mim. Eu o fazia se sentir ignorado como a dignidade de uma moça biscate.
O restante, eu não quis ouvir. Porque a primeira exigência dele já me deixou mais cansada.
Continuei sentindo aquela angústia. No meu trabalho, eu olhava para as pessoas com aquela alavanca escondida dentro do meu peito. Eu poderia chorar a qualquer momento. Bastava um olhar torto, um destrato, uma grosseria. E eu choraria torrencialmente.
Era um daqueles dias, quando você senta e vê a vida passando, as coisas mudando e você tão pequenininha perto de tudo isso... As pessoas entrando e saindo da sua vida, você se surpreendendo e se decepcionando com elas... Ás vezes eu choro pensando nessas coisas. Você vai achar ridículo, mas eu acho tudo tão lindo. Eu fico olhando pra minha vida, vendo as coisas acontecerem e me dá uma vontade de chorar. Como se eu estivesse em um filme ou em alguma história de cinema. E eu paro, sento e assisto. Aí eu olho para tudo e sorrio e choro, meio agradecida, meio deslumbrada, meio ansiosa, pensando se eu estou aproveitando tudo do jeito certo, pensando se eu estou fazendo as coisas como Deus quer que eu faça, pensando se eu conheço o tanto de pessoas que eu deveria estar conhecendo... E choro mais. Porque eu acho tudo lindo.
É mais ou menos assim... Como se eu fosse capaz de sentir todos os cheiros, todos os pezinhos de vento que passam pelo meu cabelo...
E sobre as pessoas que me deixaram, eu fico pensando... Será que eu fiz alguma diferença pra elas? Será que eu demonstrei do jeito certo que os defeitos delas nunca foi o que se sobressaiu nelas pra mim? Será que eu disse que gosto delas de um jeito que elas acreditaram e entenderam isso? Agora elas já foram. Tomara que as coisas dêem certo pra elas. Porque essas pessoas fizeram diferença pra mim.
Ataques de otimismo. Eu até tratei isso na psicóloga uma vez. Ela achou legal.
No mais, é isso.