Essa carta eu recebi de uma amiga minha de infância antes de ontem por e-mail. Eu fiquei tão abalada com as coisas que ela escreveu... O texto eu reescrevi e mudei os nomes, pra poder colocar aqui. Me fez pensar... Como coisas minúsculas às vezes se tornam monstros dentro da gente.


Gaby...

Amiga, socorro. Eu não sei mais a quem recorrer. Se eu não conversar sobre isso com alguém, eu acho que vou enlouquecer (frase de filme, eu sei, mas desta vez, putz, é totalmente verídico).
Você lembra do Alexandre, não lembra? Se não lembrar, não tem importância, porque eu te falei dele há muito tempo atrás, quando ele era só o carinha bonito que me animava de acordar todo dia. Era ótimo pra mim ir pra faculdade e vê-lo todos os dias. Na época em que eu falei dele pra você, era só alugação.
Mas está tudo diferente. Eu não sei nem por onde começar a te explicar. Eu preciso tirar isso de dentro de mim de uma vez. O negócio é que as coisas estão diferentes agora. Eu estou apaixonada por ele. Calma, eu até sei o que você vai dizer "Ai, Giovana, lá vai você de novo se apaixonar por cara que não presta". Mas Gaby, calma, me ouve, me ouve. A gente foi se aproximando e saímos algumas vezes juntos e foi incrível e... E agora eu estou apaixonada. Pois é, aquele papinho cafona de "eu gosto do que ele é" e "eu quero vê-lo super bem" e "eu estou feliz quando ele está"... Tudo isso eu estou sentindo.
E não sei, eu acho que estou sendo correspondida porque ele olha pra mim como bobo, exatamente como eu olho pra ele, eu não sei te dizer quando as coisas começaram a mudar... Bom, não importa. Deixa eu chegar de uma vez na parte em que eu me apavoro.
Ele tem mulheres lindas ao redor dele o tempo todo. No começo, eu achei que conseguia lidar bem com isso, não me incomodava, porque eu sei o que ele sente por mim (a gente nunca se beijou nem nada), mas eu não suporto mais. Gaby, eu não sou forte! Eu não quero mais fingir que não me sinto feia, que eu não me sinto gorda e deformada perto dele, eu tenho vontade de chorar e gritar para o mundo que eu não quero mais esse negócio de gostar de alguém, que eu cansei, que eu prefiro a minha vidinha de mulher sem sal! Quando eu vejo as mulheres lindas vindo falar com ele, me dói, me cansa fisicamente, é como se eu tivesse que sustentar um andaime com o meu dedo mindinho porque é esse o peso do esforço e da pose de mulher segura que eu tenho que fazer, na verdade é o mínimo de esforço que eu tenho que fazer porque menos que isso, putz, eu acho que caio ajoelhada no chão chorando, gritando TÁ, TÁ, EU DESISTO! EU DESISTO DO ALEXANDRE! EU SOU UMA FEIA MONSTRENGA QUE NÃO MERECE FICAR COM ALGUÉM BONITO ASSIM! E quando eu digo bonito, não é beleza física só. É tudo. Ele é incrível. Incrível, incrível, incrível. Eu não quero mais gostar dele, Gaby! Eu não agüento mais, eu estou cansada, esgotada, eu estou exaurida. Cansada de ficar horas pensando se ele está me levando uma flor na hora do almoço porque gosta de mim ou porque está sendo caridoso, porque está me dando uma esmolinha. Ele tem pena de mim, é isso que eu penso o tempo todo! Penso que ele me acha feia, fico paranóica pensando que ele olha pra mim e lhe ocorre a mente: "tá, ela é legal, mas pelo amor de Deus, olha o tamanho desse nariz. Olha a grossura dessa perna. Não dá, seria como pular do carpatcho para o sanduíche de presunto". Eu não agüento mais, Gaby. É como uma responsabilidade que eu não posso dar conta. Ele já disse tantas vezes que me adora, já quis me beijar inúmeras vezes, mas eu não... não consigo acreditar que é de verdade. Eu não consigo imaginar o Alexandre gostando de mim. E mesmo que isso fosse verdade, e eu o beijasse, e depois? E depois disso, o que eu faria? Hein? O que eu ia fazer? Ele me usaria e me jogaria no primeiro bueiro ou se daria conta de como eu sou pouco pra ele, de como eu sou horrorosa, do puta sanduíche de presunto que eu sou! Nem bonitinha eu me acho! E essas garotas, elas devem dormir com o Alexandre e tudo o mais... Eu teria que dormir com ele só pra que ele me amasse? Quer dizer, você sabe que eu não faço o tipo virgem santinha, Gaby, mas porra, eu só dei pra caras feios até hoje. Feios não de feiura estética, mas sei lá, caras normais, que eu gostava, não porque eles eram incríveis, mas sim porque eu tinha total ciência de que não merecia algo melhor. Então sei lá, eu dava. Mas com o Alexandre... Eu gosto do Alexandre. Só de pensar nele me beijando eu tenho um espasmo nervoso, imagine sexo! Eu... Eu não vou dar conta, Gaby! E se ele ver que eu sou um lixo? E se ele perceber que eu não presto, que eu sou uma coisa medonha e grosseira?
Ao mesmo tempo que eu estou feliz quando estou com o Alexandre, eu me sinto cobrada, eu me sinto idiota, como aquelas menininhas de seis anos que vão passar maquiagem a primeira vez pra ficarem bonitas e se borram todas. E ficam parecendo palhaças. Eu sou uma palhaça. Pra mim, não adianta eu me arrumar. Eu tenho a impressão que vão rir de mim. "Olha lá, a feinha tentando dar um trato. Coitada... Deixa ela tentar. Um dia ela se toca de que não tem solução".
Gaby, eu só estou falando isso tudo pra você porque confio em você e porque não agüento mais guardar isso pra mim. Eu sei que as coisas que eu estou sentindo são completamente suicídas e parecem vir de uma pessoa neurótica e doentia. Mas... Sou só eu, Gaby. Você me conhece desde pequena. Apesar de a gente não se falar todo dia, eu confio em você. E sei que você vai saber o que me dizer.
Pelo amor de Deus, me ajuda. Eu estou desesperada. Eu não quero mais sofrer assim. Algo que deveria estar sendo mágico na minha vida, está me agredindo como no nazismo. Eu estou cansada, Gaby... O meu corpo está doendo. Pelo amor de Deus, me ajuda. Me fala uma palavra de conforto. Como eu faço pra me sentir melhor? Eu choro todos os dias, Gaby. E o Alexandre não entende porque eu me afasto, fico fria... Acho que vai ser melhor assim. Eu não dou conta, Gaby. Eu acho que não dou conta. O que que eu faço... Me ajuda... Eu quero parar de sentir isso tudo.


Jesus Cristo, o que eu falo para essa menina?
  ¶ 9:05 PM